terça-feira, outubro 13, 2009

Resposta da Redbull F1 Racing

Segue abaixo a resposta da equipe Redbull ao email que enviei com a minha opinião sobre o infeliz comunicado postado pela equipe de fórmula-um, em seu site, sobre os cuidados que se deve ter ao vir ao Brasil.
Hoje entrei no site e não encontrei mais o artigo. O Texto foi substituído por um outro artigo em que o ex-piloto David Coulthard elogia o GP Brasil.
Primeiro, leia o artigo anterior, já traduzido. O título do artigo é "apenas diga NÃO":

"Guia de sobreviência da RBR (Redbull Racing)

Perguntas para se dizer "não" - Dicas a jornalistas internacionais

- Este Rolex é verdadeiro?

- Gostaria de uma oitava caipirinha?

- Devo parar no sinal vermelho?

- Você gostaria de conhecer uma garota muito bonita que eu conheço?

- Esta é realmente uma garota?

- Você gostaria de mais carne?

- Gostaria que eu estacionasse seu carro?

- Já considerou a possibilidade de viver com apenas um rim?

- Devo parar se um carro bater na minha traseira?

- Minha esposa vai acreditar que a calcinha sensual que eu trago na minha mala é um presente para ela?
- Não deixe a sala de imprensa no domingo à noite e venda a sua credencial para um espectador.

- Não saia dizendo: “Te vejo no ano que vem, companheiro!”.
- Não vá para tirar três semanas de folga.

- Não feche a sua matéria com uma bem-humorada nota dizendo ao editor de esportes o que você realmente pensa dele, achando que não estará trabalhando no jornal no próximo ano.

- Lembre de adiantar o relógio em uma hora no sábado à noite. Isso significa virar o ponteiro à direita, diferentemente do circuito de Interlagos, que é anti-horário. Ótimo. Além dos problemas de fuso horário entre Cingapura-Japão-Europa-Brasil, os deuses ainda lhe roubam outra hora de sono."

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Agora, a resposta da Redbull ao meu email - claro, que já se trata de uma resposta padrão diante da revolta dos brasileiros ao teor do artigo. Lá embaixo está o texto do meu email.


Re: CRIME AND PREJUDICE AGAINST BRAZIL‏
De: Feedback@redbullf1.com
Enviada: segunda-feira, 12 de outubro de 2009 9:56:32
Para: klingklang20050@hotmail.com

Recebemos os vossos comentários a propósito da nossa antevisão do GP do Brasil. Por favor leiam a nossa resposta:
Infelizmente parece ter havido um mal entendido a propósito da nossa antevisão do GP do Brasil. O que pretendemos significar foi que todo mundo que trabalha na Fórmula Um, incluindo os que trabalham na Red Bull, adora vir para o Brasil e para o seu Grande Prémio. Quando dissemos que o Brasil era como uma droga – não que o Brazil era uma droga – não insinuamos nada de negativo – queríamos só dizer que é um pais de que nunca nos cansamos e queremos sempre mais.
No entanto, todos os anos alguns elementos da Fórmula Um encontram dificuldades em São Paulo porque não usam seu senso comum quando lidam com uma cultura e estilo de vida diferentes. A nossa antevisão pretendeu ser um guia bem-humorado para ajudar as pessoas que trabalham na Fórmula Um a aproveitar o que o Brasil tem de bom, de forma responsável
Lamentamos se isso ofendeu algumas pessoas, porque essa não era a nossa intenção. A Red Bull adora o Brasil e todos ansiamos a próxima corrida – que é uma das melhores do ano.

We have received your comment about our Brazilian GP preview and would like you to read our response:
Unfortunately, it seems there was a misunderstanding about our Brazilian GP preview. What we meant was that everyone in Formula One, including the people from Red Bull, loves coming to Brazil for the Grand Prix. Saying Brazil is like a drug, was not meant to be negative – it was meant in a good way as it is a place we cannot get enough of.
However, every year, some members of the F1 world get themselves in trouble in Sao Paulo because they do not use their common sense in dealing with a different lifestyle and culture. Our preview was meant to be a light-hearted guide for F1 people to help them enjoy the delights of Brazil in a responsible way.
We’re sorry if we caused you offence as it was not intended. Red Bull loves Brazil and we’re very much looking forward to the forthcoming race – it’s one of the best of the year.

-----Ricardo Freitas wrote: -----


To:
From: Ricardo Freitas
Date: 10/10/2009 02:02PM
Subject: CRIME AND PREJUDICE AGAINST BRAZIL

About the "survival guide" in Brazil that you put on your site:


It´s prejudice!
It´s ignorance!
it´s racism!
it´s a crime!
And it´s a shot on your own foot. People in Brazil drink redbull and
help to support this strange and almost ilegal drink that "gives you wings", for what?


we can launch a campaign against all redbull products,


trash. That what REDBULL F1 and ALL THAT TAKES REDBULL MARK is.


REDBULL GIVES YOU NO WINGS, BUT BAD LESSON, PREJUDICE AND A DESGUSTIN´ FLAVOR OF A CRIME AGAINST A ENTIRE NATION.


YOU DON´T KNOW BRAZIL
YOU DON´T KNOW PEOPLE OF BRAZIL
YOU DON´T KNOW THE REAL WORLD.


IT´S A SHAME FOR WORLD SPORT.
REDBULL IT´S A COMPLETE SHAME


RICARDO FREITAS

terça-feira, agosto 25, 2009

ISSO NÃO É TROTE. É TROTE!

Quase todo dia tem um grupinho de quatro a sete jovens pintados dos pés à cabeça pedindo dinheiro no cruzamento das avenidas Mestra Fininha e Deputado Esteves Rodrigues. São calouros de alguma faculdade; na esmagadora maioria, particular. Então não é trote. É trote!

Competindo com os deficientes físicos que pedem esmola no local, os novos "gênios" universitários se sentem orgulhoso em aparecer melados de tinta colorida, feito um abadá enlameado se arrastando com um sorriso no rosto. A maioria passou em faculdades particulares; ou seja, os calouros foram convocados a pagar pra fazer o curso. Nada de errado. Mas onde está então o sabor da conquista? O trote não passa então de um trote. O trote não vale nada.

Pior que isso é quando penso na massa inculta e despreparada que esses cursos que se multiplicam às centenas em cada esquina, como "templos" evangélicos e lan houses. Dá um templo! Quero dizer, dá um tempo! O que vai ser dos nossos filhos e netos? O que fazer quando uma jornalista não sabe quem é o presidente da Câmara, e ainda diz: "câmera"? Essa pérola saiu ontem da boca de uma linda loira jornalista, na série de testes para a vaga de oitavo integrante do programa CQC. Ainda bem que meu cachorro nunca vai ler qualquer notícia feita por esse tipo de profissional da aberração.

Não é só jornalista. Vá a qualquer curso superior e desafie alguém a fazer um texto qualquer em que pelo menos dois parágrafos tenham uma gramática decente e uma coerência razoável. Pode-se contar nos dedos. Os cursos superiores abrigam hoje o reflexo dos cursos fundamentais mal conduzidos e mal feitos: uma massa de analfabetos funcionais. Grande parte tem um ritmo de leitura semelhante ao dos piores gagos. Não escreve nada bem. Pior: não conseguem captar a mensagem. É vergonhoso.

Nas escolas de jornalismo, o que vejo hoje é que realmente falta estrutura para que os professores levem a prática para dentro da universidade. Mas o que mais dói é ver o estudante de jornalismo que não se interessa pela matéria-prima da carreira que escolheu. Os caras não assistem aos jornais. Não se informam nem se interessam pela notícia nem mesmo quando navegam na internet. Não querem aprender a ler e escrever corretamente. Não se esforçam para, além disso, ler e escrever tecnicamente para que a nossa língua seja usada devidamente na profissão: uma ferramenta que transforme fatos em notícia; que seja o meio pelo qual se questione, ajude a explicar e se faça entender; com a qual se procure a justiça, a verdade, a isenção e a cidadania.

A língua portuguesa é o esqueleto do jornalismo, e não apenas um decoreba de cursinho caça-níqueis para vestibular. A palavra é a mais poderosa das armas. Faz e desfaz. Acusa e inocenta. É capaz de ferir de forma irreversível! A nossa língua não pode nem deve ser tratada, como quer a turminha do STF. Mas cada vez que vemos estudantes cravarem suas unhas tão agressivamente na gramática e, conseqüentemente, no cerne da informação, me sinto então o cozinheiro de Gilmar Mendes, preparando um fubu sem ter a capacidade de retirar o veneno.

Chega de patricinhas querendo ser Fátima Bernardes e malucos se achando que tirar fotos em micaretas ou virar reboque de carro da polícia é jornalismo. A palavra é para se comunicar. Jornalista é operário da informação. Se não sabe entender o mundo e se comunicar com ele... Vá ser professor de trote na esquina da Sanitária!

quarta-feira, maio 13, 2009

Os mortos do Maranhão

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Até agora foram quase 50 mortos nas enchentes do Nordeste, a maioria no Maranhão. Há milhões de desabrigados. E quantos mortos pela nova gripe? No Brasil, zero.
Mas o que mais ocupa destaque na grande mídia? A nova gripe.

Em 1985, nada menos que 25 mil colombianos foram sepultados vivos! Um vulcão despejou uma avalanche de lava e rochas sobre toda a cidade de Armero. Alguém se lembra? Duvido.

Mas quem esquece os mortos de Columbine? E de outras tantas escolas dos Estados Unidos? E dos reféns norte-americanos no Irã no auge da ditadura dos aiatolás? Muita gente lembra, sim.

E os milhares de afegãos mortos por tropas norte-americanas? Os iraquianos, os palestinos (mortos por Israel, mas o terrorismo de Estado é, por tabela, trade mark dos Estados Unidos).

Mortos famosos? Frank Sinatra. John John Kennedy. Marylin Monroe. Se bobear, até o genocida George W. Bush vira santo. Ninguém esquece. Ou pior: é forçado a não esquecer.

E tem os mortos das torres gêmeas. Uns 3.600. Muitos de outros países.
Não dá pra esquecer, né? Mas e os milhões de mortos em Rwanda? E outros milhões exterminadas nas guerras de fome e de fome de poder África adentro? Não se conta.

Quanto vale um morto?
Quanto vale um morto para pesar em nossa memória?
Quantas centenas de chineses mortos num terremoto valem um bandido executado por um policial no império dos Bush?
Quantas dezenas de geniais Marisas Montes valem uma boneca inflável de motel como Britney Spears?
A morte de um coadjuvante de filme B norte-americano vale encerrar o Jornal Nacional. O falecimento de alguns dos grandes nomes da nossa arte virar nota coberta com foto e créditos com as manjadas datas de nascimento e morte?

Quanto vale um corpo eu bem sei. Se o morto é norte-americano vale muito, mesmo que seja um simples faxineiro. Se for um grande nome de um país pobre ou em desenvolvimento vale nada.

Que os estados Unidos valorizem seus mortos, vá lá. Agora, a grande mídia brasileira - bem como de outros países cuja imprensa ainda trabalha como colônia cultural - repetir feito papagaio tudo que se diz na "Corte" é deprimente. Entre nos grandes sites nacionais e você saberá fofocas de pessoas cujo nome você nunca ouviu falar. Mas estão lá: em flagrantes incríveis indo às compras; puxando a alça do sutiã numa praia do Caribe; mudando de parceiro, etc. E assim é com os mortos.

Os mortos do Maranhão são como os do Afeganistão, os de Armero, os do Tsunami (assustador: mais de duzentas mil pessoas perderam a vida!).
Os mortos da enchente do Maranhão valem menos que os da enchente de Santa Catarina.
Será que a Record está fazendo campanha pelas vítimas dessa enchente, como fez em Blumenau? Será que Ana Maria Braga fez transmissão ao vivo de São Luís? Eu não vi.

Os mortos do Maranhão não dizem muito aos donos daquele Estado-dos-Sarney.
Mas será que a imagem dos Sarney já não anda alagada demais para aparecer na mídia? E como eles são donos da mídia, não seria surpresa um controle do que se passa na imprensa do Sudeste. Assim como se faz aqui nas Minas de Aécio - o homem que criou em volta de si uma suspeitável unanimidade política -, provavelmente nosso futuro Collor.

Nós, cidadãos mineiros, não devemos apenas nos preocupar e enviar ajuda aos conterrâneos da Sarneylândia. Precisamos também ficar atentos para que, como os mortos do Maranhão, não sejamos vitimados por essa Aeciolândia, sustentada por uma imprensa que se cala a qualquer preço.
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segunda-feira, maio 11, 2009

MÃINHA

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Já fiz poesia para amigos, painho, coisas, animais e outras tantas coisas mas, não consegui ainda fazer um poema sobre mãinha. Sempre apago logo que termino um ou dois versos.

Não se trata apenas do fato de que não há papel nem palavras que sirvam para definir a impressionante e inesgotável fonte de bondade, gentileza e inteligência que ainda brota todo dia daqueles olhos tão vividos. É algo muito além disso.
Mãinha perdeu o marido três meses depois de dar à luz seu décimo filho. Sim, eu não conheci painho. Somos de Jacaraci, sul da Bahia. Ela trouxe todas as crias para Montes Claros. Medo de que os mais velhos vingassem o assassinato do pai. Uma nobre. Educadíssima. Minha mãe é assim.

Passava dia e noite pedalando uma máquina de costura – pedal mesmo nas velhas Singer – para não deixar faltar água, comida, roupa limpa e escola para todos. E nunca faltou. Da parte dela, nada faltou. Se o assunto é mãinha, a palavra ausência não tem tradução no dicionário da nossa família. Ela nunca deixou de estar, muito menos de SER mãe.

Sempre forte e nobre. Os filhos nem tanto. Sempre demos muito trabalho a Dona Lia. Éramos todos moleques, no bom sentido da palavra. Mas nunca nenhum de nós se envolveu com coisas ilícitas. Os mais velhos transportavam carvão para ajudar nas despesas. Alguns se casaram, outros se mudaram... E a vida foi nos afastando da convivência diária com a nossa mãe.

Ela perdoa nossas falhas. Rainha da misericórdia! Mas o tempo, não. Perdemos um dos nossos queridos irmãos e, no velório, não me esqueço do momento em que alguém pediu para que ela não chorasse tanto, pois “um morreu, mas a Senhora ainda tem nove”. Mãinha então respondeu com os olhos brilhantes: ”mas desfez minha cirandinha”.

Completou 84 anos neste primeiro de maio. Ainda lúcida e exercendo seu papel de matriarca, mas com incomparável amabilidade. Uma psicóloga autodidata. Ela é toda uma obra-prima com o que há de melhor e mais puro na humanidade. E ainda borda, faz crochê e tricô; é quem prepara o melhor biscoito, o mais saboroso frango e os melhores doces que já provei. De manga verde, de leite, e do meu preferido: de mamão.

Quando eu disse a ela que fui demitido da empresa à qual eu dediquei quase metade da minha vida (tempo e empenho) por não concordar nem participar de procedimentos que ferem a ética profissional e os meus princípios, ela escondeu a preocupação com a questão financeira, e abriu um sorriso reto; disse "sim" com a cabeça, apertou os olhos e me abraçou. Ela sempre diz: "meu filho, a única coisa que pobre tem é o nome". Nome limpo, ela quis dizer. Honra.

Os princípios... Mãinha nunca nos obrigou a decorar os dez mandamentos. Ela nos ensinou muito mais que dez com seus exemplos. Nunca nos impôs presença em cultos e rituais religiosos. Sábia, nos ensinou com seu silêncio respeitoso que para ser honesto e fazer o bem não é preciso pagar as contas de padres nem de pastores. Mas cultivou em todos nós a tolerância. Ela, católica devota de Nossa Senhora Aparecida, ama os filhos: tem evangélico, ateu, espírita e até católicos. A religião à qual Mãinha nos batizou chama-se tolerância!

Minha mãe é uma árvore que estende seus galhos para o pouso seguro das aves, para as garras afiadas de outros tantos bichos... Fornece alimento com fartura. Folhas, sementes, casca, seiva, frutos e até as raízes se preciso for. Nos cobre de sombra sem nos tirar a luz.

Sempre preocupada com todos, cobra dos filhos mais ajuizados que nunca abandonem os demais. Ela sabe, nunca abandonaremos. Nós, os filhos, somos de pouca expressão de afeto e palavras, e apesar das desavenças somos todos pedaços de uma mesma brevidade. Daquelas que só mãinha sabe fazer.

A gente deve muito a ela. A gente deve tudo a ela. Mas é assim mesmo. Ela nos passou um bem que não tem preço, e não há como retribuir à altura. Vamos tentar nos esforçar mais, com certeza.

Agora eu percebo por que não consigo descrever Mãinha num poema. Ela sabe que sou ateu, mas nela eu acredito. Nela eu tenho fé. Se há alguma comparação que eu possa fazer a essa mulher que me dá vida até hoje é com o deus dos que traduzem a divindade como sinônimo do bem. De um bem maior. Falam tanto de deus em sua ausência. Talvez, quando eu não puder mais ver mãinha, eu consiga escrever mil bíblias para que todos tentem entender e acreditar que é possível todo o bem e todo o amor habitarem um só ser vivo.
Maria Alves de Freitas, te amo além dos limites da eternidade.
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domingo, maio 03, 2009

COLABORADOR OU CARNIÇA?

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Funcionário agora é colaborador. Essa mania é um vírus que contagia as empresas em todo o Brasil. Grandes e pequenas; excelentes e medíocres. Mas poucas são as que levam a sério o significado dessa mudança.

Colaborar é trabalhar para se chegar a um mesmo objetivo; cooperar para que as coisas funcionem bem para todos. Tanto o empregado quanto as chefias e os patrões deveriam dividir os méritos e lucros da conquista. Mas não é o que se vê. Pra ser sincero, eu tenho medo de empresa que inventa nomes, métodos e projetos que envolvam casca e não conteúdo. Tenho medo de empresa que chama trabalhador de colaborador. Eu sei bem disso, pois já vivi essa experiência.

Que colaborador que nada. Sou profissional! Não acho correto estabelecer relações trabalhistas nesse nível. Mas esses subterfúgios são armadilhas psicológicas para, supostamente, fazer com que o empregado se sinta mais valorizado e importante, e assim estimular a produtividade. O trabalhador não precisa ser adulado ou ser obrigado a participar de encontros de finais de semana com aquelas dinâmicas idiotizantes e ainda palestras! - Estas merecem um capítulo à parte. A exemplo dos livros de auto-ajuda, essas palestras só servem aos palestrantes. Pretensiosas; falsamente inovadoras; engraçadas; caça-níqueis; isca de carreiristas; e débeis!

O que faz um profissional trabalhar direitinho, cumprir suas obrigações ou ir além disso é a soma de SALÁRIO, CONDIÇÕES DE TRABALHO E FAZER O QUE GOSTA/GOSTAR DO QUE FAZ. Não existe outra fórmula. O problema é que patrão só pensa em se dar bem. Não pensa em ser COLABORADOR. Ele não - e nem faz questão de querer - que seus empregados cresçam com ele. Não quer ver o funcionário melhorar de vida. Por isso ele não quer colaboradores. O que o patrão quer é jogar nas costas do empregado o peso negativo da administração. Ao menor sinal de crise, qual é a primeira medida a ser tomada? Demissão de colaboradores. Bingo!

Quantas empresas você conhece que têm realmente um plano de cargos e salário? Na InterTV, depois de, sei lá, 12 ou 13 anos de edição de telejornais (função a que costuma limitar a editor de texto, e é bem mais complexa), recebi uma incrível promoção: editor nível 1, ou iniciante. Assim aconteceu com todos os outros funcionários, entre veteranos de guerra como eu e novatos. Uma ofensa. Pior: não sei se ainda é assim, mas as promoções nesse tipo de empresa-gafanhoto (lembram de Independence Day?) significam uns 40 ou 50 reais a mais no salário. Outra ofensa.

Participei de muitos encontros chamados de UniGlobo. Uma grande cidade ou, de preferência, um ponto turístico + um fim-de-semana + chefões da central que coordena o trabalha das emissoras afiliadas + um repórter famoso, um editor porra-louca + um bando de iludidos do "interior" = está pronta a receita. Os caras que você admira repetem bobagens durante duas horas; contam suas "incríveis" reportagens; salvo raríssimas exceções, não falam coisa com coisa. E depois vão curtir a folga enquanto os iludidos passam, das 7h da manhã às 9h da noite encarcerados num salão de convenções de um hotel permutado com a emissora local. No final de dois dias de tortura, a grande mensagem: a REDE está aberta. É! Aberta que entreguem suas denúncias, seus paraísos, seus personagens curiosos para que as equipes da REDE venham e jantem a afiliada.

Sempre foi assim. Falam, falam e nunca ouvem. Até hoje não fazem idéia do tipo de patrões e empresas que elevam ou arrasam a franquia no interior. Mas não estão mesmo interessados. A Globo sempre exigiu padrão de qualidade nos telejornais, no sinal, na programação em geral, e principalmente no intervalo comercial. Mas nunca estabeleceu para a franquia um salário-base, um limite digno de remuneração para os jornalistas, consultores de vendas, etc. Muita gente ainda entra em faculdade de jornalismo com a ilusão de que os salários de uma afiliadinha são pelo menos primos dos que são pagos a William Bonner ou Fátima Bernardes.

Talento e valor agregado merecem realmente valorização acima do comum. Mas o que se vê hoje em dia é um escândalo! Enquanto o ensino agoniza nas faculdades e a profissão é sepultada pela velha tríade religião-política-eventos, os "colaboradores" enfrentam uma rotina humilhante. Profissionais de vídeo, sempre mal remunerados - não raro sem horas extras e outros direitos - se vêem obrigados a gastar o que não têm com blasers, gravatas, maquiagem, cabeleireiros, etc. Não se trata de aparência pessoal, mas profissional. Repórteres, repórteres cinematográficos (freqüentemente ofendidos com o registro de operadores de câmera) e apresentadores não devem estar bem vestidos e com boa aparência apenas por si, mas porque são a IMAGEM da empresa de comunicação!

Visitem o site do DIEESE. Está lá: salário mínimo de 465 reais. Salário mínimo necessário: R$ 2.005,55, pelos dados de março deste ano. Agora, você, estudante de jornalismo, pergunte quanto ganha um repórter-apresentador veterano na afiliada Globo de Montes Claros. Depois procure descobrir quanto William Bonner e Paulo Henrique Amorim embolsam todo mês para chorar por seus patrões, como bons colaboradores. E, se mesmo assim decidir ser jornalista, capriche nas aulas de português e no consumo diário de notícias.

Em suma, a empresa jornalística ela não deve cumprir as leis trabalhistas como toda empresa deve fazer, mas também por que ela trabalha com cidadania e cobra de empresas, políticos, entidades e órgãos públicos o cumprimento dessas mesmas leis. Os patrões, gerentes e "chefinhos" dos meios de comunicação que não procuram levar essa mentalidade para o seu local de trabalho, para sua rotina, são duplamente "criminosos". Se a empresa é pequena e, como sempre, mal estruturada, que pelo menos a equipe trabalhe em um clima de satisfação profissional e pessoal. E como se abre caminho para esse tipo de ambiente? Basta estabelecer uma relação de respeito em que haja um clima de entendimento das dificuldades pessoais e profissionais, gerando um equilíbrio de equipe - e não de grupo. Eliminação de chicotes como xingamentos e discursos de chefia ultrapassados. Num barco furado, melhor a gente se juntar pra tapar o buraco do que berrar 24 horas por dia em busca de culpados.

Não adianta ser chamado o dia inteiro de filho da puta por um semianalfabeto detentor de órgão de comunicação, e no final do dia ir pra boteco com os colegas responder ao troglodita, como se ele fosse a garrafa de cerveja ou a bituca do cigarro. No dia seguinte, a história se repete. No final do mês, o salário não chega. O novo mês fica maduro, e a merreca só então dá as caras, já caduca.

Uma coisa é certa: Se a gente não mudar, a coisa não muda. Se a gente continuar ficando de quatro para levar bicuda na bunda - e tem gente que ainda agradece! Se a gente não age como profissional no trabalho e na cobrança, não tem patrão que respeite, não. Faça por merecer e cobre respeito, salário e condições.

É hora de deixar de COLABORAR com tudo isso. Essa colaboração não nos leva a nada.

Já me disseram uma vez que só existe urubu onde tem carniça. Vamos deixar de ser carniça!
Está na hora de ser jornalista de verdade. Jornalista de VERDADE. Está na hora de ser humano.

--- feliz mês do trabalhador ----

quarta-feira, abril 08, 2009

DIA DA IMPRENSA: 7 de abril ou 2 de novembro?

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Na caixa de email, três mensagens de congratulações pelo dia da imprensa. Uma da agência de comunicação de Ana Maria Barbosa, uma das melhores em sua área. Uma outra da direção da Coteminas, e outra da Gerência Regional de Saúde. Vá lá...


Estranhei o email da Coteminas, sempre de portas fechadas para a imprensa local. Quanto à Gerência Regional de Saúde, a gente sempre fica com um pé atrás, depois do episódio da farmácia Minas Brasil. A equipe da TV Geraes tentou filmar o material - uma tonelada de produtos apreendidos por fiscais da Anvisa e Polícia Federal -, mas não conseguiu. Só fulano autoriza, e ele não está.


Melhor seria que o dia da imprensa fosse comemorado em dois de novembro. O que não falta é gente pra jogar terra em cima. Infelizmente, muitos são jornalistas! Uma cambada de maus profissionais que infesta redações e geerência de veículos de comunicação, sem sequer ter qualquer compromisso com a informação.

Na Inter TV, a equipe de jornalismo sempre penou com essa situação. A empresa comprou o que restava da Grande Minas - que ao contrário do que muita gente pensa, tinha gerentes com salários de marajás bancados pela Rede Globo, e nós jornalistas muito mal pagos -, e apesar do corte cruel e desrespeitoso de funcionários e horas extras, jamais se dedicou a melhorar as condições de trabalho para os jornalistas. profissionais dedicados, muitos nem exigiam aumento salarial, nem horas extras, mas pelo menos equipamentos novos, decentes. Fitas! Seria pedir demais? Equipamento de vivo! Difícil demais, para uma empresa que se orgulhava de ser a mais rentável das emissoras do interior? Que nada. Nada para o jornalismo. E é assim que tem sido, não apenas com a maior emissora de Montes Claros.


Falidas pela má administração, como a Grande Minas, acabam compradas pelo que chamo de sistema Independence Day. Lembram do filme? Então! Grupos empresariais que nada têm a ver com comunicação pousam sobre essas emissoras regionais, e ficam aí devorando verbas comerciais como faziam os gafanhotos extraterrestres do filme. A colheita vai para a empresa-mãe, cujo negócio jamais foi, não é, e dificilmente será INFORMAÇÃO. O que vemos no ar, não tenham dúvidas, é até hoje resultado do empenho individual de uma turma - cada vez menor - de profissionais que ainda se esforçam pelo compromisso com a notícia, e com o telespectador. Importante destacar ainda que a receita vale também para outros setores vitais da empresa, como a engenharia. Assim como as redações costumam ser uma espécie de estorvo para empresas de "comunicação", a engenharia, responsável por levar a informação até nossas casas, costuma viver em meio ao que poderia se chamar de oficina de fundo de quintal para restauração de sucata. Na TV Geraes, nem engenharia temos. A nova direção tenta recursos por meio de projetos de incentivo à cultura, para tocar uma transformação na emissora. Como na Intertv, um dos maiores problemas da TV Geraes é o sinal. Guardadas as proporções, os telespectadores das duas emissoras sofrem com a falta de qualidade.

Na TV Geraes pegamos o sinal da Redeminas, que tem um jornalismo típico de servidor público. Não tem jornal nos feriados. Na virada do ano, quando Belo Horizonte foi vítima de uma tragédia histórica - o temporal que devastou parte da cidade - não havia jornal Minas! Pior: quando questionei porque não cobriam os trabalhos da Assembléia Legislativa, a jornalista reponsável pela rede disse que é melhor não cobrir porque dá muito problema!!! Bom, ainda bem que não é a Redeminas que cobre Brasília para o restante do país!

É tanta coisa errada e bizarra na imprensa, que acabei me desviando do foco do artigo. Mas nunca é demais lembrar: quantos jornalistas sérios você viu por aí andar de Audi? Eu conheço muitos que, apesar de terem feito tudo certo na carreira e terem evoluído sempre, mal conseguiram um fiatzinho. Alguns têm Uno. Outros Pálio. Outros têm até um carrinho melhor, mas pode conferir: trabalham em alguma atividade paralela - assessorias, comércio, etc. A maioria anda à pé, de bicicleta, mototáxi... Mais triste ainda, tem os que não saem de casa. Estão sem emprego.

Muitos jornalistas sem emprego. E tanta gente se dizendo jornalista por aí. Já repararam como todo mundo quer dar palpite em jornais? Como engenheiros, políticos, dirigentes de órgãos públicos, pedagogos, consultores de vendas, - e até donos de jornais! - entre outros, estufam o peito e avançam para dizer em tom de imposição o que devem ou não devem fazer os jornalistas no trato da notícia?

E aquele papo de boteco - freqüentado por políticos - de que jornal só valoriza notícia ruim. É sempre divertido ouvir essa gente falar tanta asneira. Claro que políticos não gostam da imprensa de verdade, porque costumam viver num mundo de mentiras. O que poucos entendem é que jornal trata de notícias. Trata de reportar fatos. Jornais não tratam do que não acontece, exceto quando o fato inexistente deveria estar acontecendo. É o buraco não tapado. A obra inacabada. O processo parado.

Os salários dos jornalistas, como já disse em outros artigos, são ofensivos. Eu e minha equipe na TV Geraes trabalhamos com salários baixos também. Mas até o momento a empresa está cumprindo seu mais importante compromisso, não apenas comigo, mas com o telespectador: o Jornal Geraes não cede a qualquer tipo de pressão ou interferência interna ou externa. E embora haja muitos boatos sobre a Intertv, ainda acredito no trabalho, na isenção e no esforço da equipe de Lílian Câmara. Comentários sempre surgirão: se sai uma reportagem em que a população reclama de problemas ligados à cidadania, dirão que "estão batendo na Prefeitura"; se o telejornal exibe uma reportagem que mostra uma boa iniciativa de uma secretária municipal qualquer, vão dizer que "a grana tá entrando lá". Por isso, cabe a quem elogia ou denuncia, apresentar argumentos.

Mas por falar em Intertv, uma boa notícia é que finalmente está no ar o site de notícias da emissora. O nome "in360", nem é preciso comentar muito, vindo de uma equipe de marketing (creio eu) que elaborou e ainda, na época da mudança da logomarca da emissora, nos fez rolar de rir com uma explicação infantil para aquele sanduíche com as cores do arco-íris. A logomarca do "in360" é bonita. Mas em nada aquela peça de engrenagem pode ser associada a jornalismo ou aos tais 360 graus. Em nota no MGTV, a empresa explica que o "in" é interior, e "360" se refere ao giro total pelo mundo da notícia. Difícil é entender porque não associam o portal ao nome da emissora.

Mas fora essa questão semiótica (ou seria "sem ótica") e metafísica da equipe de marketing, a chegada do site é importante. Só quem lida com notícia diriamente sabe o quanto é fundamental essa interação de mídias. O contato direto do telespectador-internauta com a equipe de jornalismo. A divulgação de notícias na internet para quem perdeu os telejornais do dia. E até mesmo para apoiar o "jornalismo de eventos", que sustenta os bons resultados comerciais da empresa, já que o espaço no MGTV é sempre curto para divulgar as imensas listas de duplas vencedoras de vaquejadas e os resultados das rodadas dos torneios de futsal. O site é bem acabado. Não é pesado. É bastante funcional, e agradou aos internautas. Até as 4 da madrugada desta quarta-feira, 8 de abril, a enquete sobre a opinião dos visitantes apontava uma aprovação de 85%. Dos 842 votantes, 510 disseram que o "in360" é ótimo, 213 acharam o site bom; 51 consideram o site regular; 17 acham que está ruim; e para apenas 51, o "In360" é péssimo.

Não chega a ser um portal do nível do Grandeminas.com, comandado com competência por Aluísio Cunha, hoje assessor de comunicação da Novo Nordisk. O Grandeminas.com hospedava vários outros sites, alimentados por um sistema centralizado na emissora, e com parceria do departamento de jornalismo.

Para manter o site da Intertv atualizado foram contratados dois estudantes de jornalismo para estágio remunerado. Trabalharam na Tv Geraes. São dedicados e bons de serviço. Jornalista mesmo, que eu saiba, o site local não empregou.

Apesar da internet, ainda acho que dois de novembro deveria ser o dia da imprensa.
Os jornais são repetitivos e mal feitos. Mal escritos. As faculdades de jornalismo sobrevivem a duras penas: sem estrutura, sem salários, sem pagamentos em dia, sem donos que sequer sabem o que é imprensa. Os estudantes estão em fuga.
A falência dos cursos vai alimentar a verborragia descarada daquela gente que cisma que produzir notícia é divulgar nomes e não fatos.

O Jornal Nacional não deu uma linha sequer sobre a visita de Lula a Montes Claros. No Jornal da Globo, o repórter Luís Gustavo puxou parte do que disse Lula para um assunto nacional e assim citar a inauguração de "uma usina de biodiesel" "no norte de Minas". Ele veio à cidade, fez passagem aqui e nem sequer citou que estava em Montes Claros. Isso não é apenas retrato do descaso com que a maioria dos cabeças do jornalismo da Globo até hoje trabalha como servidores públicos. Não se interessam por nada fora do eixo Rio-São Paulo, exceto bizarrices. E quando a empresa de "comunicação" não tem como negócio a informação, não há como ter argumentos. Infelizmente o negócio da Intertv não é notícia, como é na Rede Integração e na RBS.

Por isso, repórteres locais que sempre sonharam aparecer em Rede vão ficar velhinhos de barba branca fechando telejornais a mil e 500 reais por mês. E eu quero tanto estar enganado quanto a isso, mas infelizmente é o que se constata. Não é por falta de mérito, não. É que em geral as chefias de jornalismos de empresas-gafanhoto costuma querer fazer bonito para a Rede, em detrimento dos telejornalismo local. E os coordenadores regionais não tem como dar estrutura para fazer a cobertura ideal em sua área de atuação. Resultado, os chefinhos carreiristas são transferidos ou promovidos, e os jornalistas locais e telespectadores ficam na rima.

Ser coordenador regional hoje é bem diferente do que deve ser um editor regional. Desde a chegada da empresa-gafanhoto, o cargo entregue a um jornalista para comandar a equipe local virou uma espécie de apontador de horários e elaborador de escalas de trabalho e de férias. A edição não é prioridade. Eu não me apaixonei pelo jornalismo, e pela missão social que temos em nossa profissão pra me reduzir a isso. Acho que jornalistas devem discutir bastante a realização de reportagens - minhas reuniões de pauta sempre foram demoradas - e não apenas se trancar numa sala para se tornar o controlador de horas extras, ou coisa pior. É preciso discutir e pensar a notícia. Só jornalista de verdade faz isso. Não me surpreenderia se trocassem o jornalista por um fiscal de obra da construção civil.

Acabei falando muito da Intertv. É que é o maior e mais importante órgão de imprensa da região. Foi também onde mais tempo fiquei. E também porque falei demais sobre as bizarrices dos jornais impressos nos outros artigos. Eu vou batalhar outra profissão. Talvez coveiro: dois de novembro está chegando.

segunda-feira, abril 06, 2009

OBLÍQÜO

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Pra onde apontas
Pra onde vais
Que tanto chamas
Enviesado e quente

Caminho mais que torto
Perpendicular à razão
Pra onde inclinas
Pra onde levas
Provocador
de taquicardia
Dissimulador
de sentidos

Nada inóquo

E a direção porosa
para a qual seduz
não te decifra
nem te encobre
não enferrujas
ferro nobre.

O caminho que abres
estopim dos mais curtos

Provocas
sem contudo forçar
Permites
com todas as negativas

Avanças
Em recuo.

Mas deslizas
corrimão de fibras
cruza-pés

Deseclipsa conjuntivas
e dói.

Deliciosamente.

Numa felicidade preguiçosa
numa acomodação de ossos
num desfalecimento de músculos...

Pálpebras de chumbo.

E por fim um suspiro
um suspiro zonzo
e o coração boceja...

quarta-feira, abril 01, 2009

POLÍTICA, POLÍTICOS, POVO E CIDADÃOS

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A nova legislatura da Câmara Municipal de Montes Claros completa três meses de trabalho com duas atitudes das mais vergonhosas. A casa do povo fechou duas vezes as portas para o povo. Uma covardia, como tantas outras que acontecem na política nacional, que tem de nos levar a uma reflexão mais clara e objetiva sobre o que é ser político e o que é ser cidadão, e o papel de cada um.

Na terça-feira, 31 de maio, a reunião da Câmara foi suspensa, segundo a direção da casa, por falta de condições de segurança para prosseguimento dos trabalhos. A medida foi tomada depois que o plenário foi "invadido" por estudantes que faziam apitaço cobrando a regulamentação da lei do meio-passe no transporte coletivo. A lei foi aprovada às pressas no redemoinho da campanha eleitoral, no ano passado, e determina passagem de ônibus urbano 50% mais barata para estudantes.

Os jovens teriam invadido a Câmara? Cometeram algum ato de violência? O que a imprensa mostrou foi o barulho dos apitos e um ataque de bolinhas de papel aos vereadores. Se a Câmara é a casa do povo, por que não dar voz à juventude, ainda que supostamente articulada por manipuladores políticos? Por que, em vez de cancelar so trabalhos, os vereadores não decidiram aceitar os acontecimentos e oferecer (se não por gentileza, mas por obrigação mesmo)o microfone da tribuna para os estudantes darem seu recado?

Mas então, aquela juventude só foi útil durante a campanha? Na primeira vez que procuram apoio dos vereadores o que ganham é porta na cara? Não à toa, os estudantes gritaram no plenário - e o município inteiro já questiona - "cadê a oposição?". Que milagre é esse que acontece na Câmara? Um lugar onde não existe diversidade de opiniões, não há discussões. Onde não há discussão, não há democracia. E os primeiros sinais da falta de democracia já foram escancarados: no dia em que a Associação de Surdos marchou para pedir acesso gratuito ao transporte público, como os demais portadores de deficiência, a Câmara estava de portas fechadas. Os vereadores fizeram uma homenagem às mulheres no dia anterior, e tomaram a sessão como trabalho. No dia seguinte: nada de reunião!

Por que políticos correm tanto do povo? Do povo, não correm não. Correm é do cidadão. Fácil explicar: durante a campanha, cidadão vira povo. Povo é massa, na qual os políticos não se incluem. Costumam dizer: "o povo isso; o povo aquilo; é para o bem do povo". Povo não é gente. Povo é porta-voto. Povo é cabo eleitoral... É diretora de escola... E outras pessoas que, não raro, adoram chamar político de doutor, tirar foto ao lado do "doutor", para ver se consegue melhoria pessoal. Gente que trabalha na eleição e não recebe mais que um pão com mortadela. De olho na vaguinha. De olho na nomeação. Esse povo também alimenta a espécie de político mais comum no mundo, que é essa que estampa diariamente o noticiário na internet, nas rádios, nas tv´s e jornais impressos. Gente que mexe com castelos; com obras inacabadas; prefeitos que têm processos arquivados por juízes camaradas; políicos que pagam por notícias mentirosas preparadas por jornalistas sem ética, etc.

Se você não sabia, guarde para nunca mais esquecer: político gosta de povo, mas morre de medo do cidadão. Quem vota é o povo. Quem fiscaliza e cobra é o cidadão. Por isso, vereador caga de medo quando cidadão ocupa plenário (não defendo ocupação violenta e com vandalismo). Mas plenário é do cidadão. NINGUÉM tem o direito de tomar dele a cadeira. É o povo, o cidadão, quem elege essa gente. Está na hora de a gente acordar: vereador, prefeito, deputado, presidente, governador. Todos eles são nossos empregados. Servidores! Merecem respeito, sim, mas como qualquer outro cidadão. Não é por ser autoridade. Ninguém é mais autoridade que o cidadão honesto. Mas o servidor tem que nos prestar contas. Do vereador ao presidente da República. Essa gente é paga com o dinheiro do cidadão.

E cá pra nós, quantos políticos verdadeiramente são políticos? Os que têm mandato? Nem todos. Sabe quem faz é político de verdade - e de honestidade? Vamos citas uns exemplos: Padre Henrique, que vive trabalhando para ajudar os mais necessitados; Cida, uma anônima que recolhe e dá assistência a animais abandonados e maltratados; é Aroldo Pereira, que batalha há décadas pela poesia; é o delegado Saulo Nogueira, que é um caso raro de integridade e luta pela segurança pública. Essa gente sim faz política. Existem muitos outros nas mais diversas áreas. Poucos se candidatam. Temem - e com razão - ver seus nomes misturados à mesma lama de porcos que bem conhecemos. Ser político é trabalhar por um rua melhor, por um bairro melhor, por uma vida melhor para si e para os outros.

Ser político não é legislar em causa própria. Não é receber trocados para se aliar ou ser contra outros politicos. Ser político não é passar quatro anos se dedicando a mudar nome de ruas e praças e votar homenagens para amigos e gente que possa lhe render benefícios pessoais. Também não adianta praticar a boa política, conquistar um mandato e mudar o rumo da sua trajetória. É preciso se respeitar e manter-se fiel aos princípios da ética e da cidadania.

Não defendo aqui uma oposição barata, também tão vendida quanto os que se entregam a quem está no poder. Mas oposição no sentido de opinião própria e que leve em conta o bem-estar da população. Essa legislatura que tem, sim, políticos de boa origem: Valcir, que vem da luta pelos direitos dos deficientes, e outros novatos como um pastor que batalha para livrar jovens do mundo das drogas. Justamente desses políticos se espera uma atitude corajosa e livre! É neles que a população confia e espera que a Câmara Municipal deixe de ser uma escolinha do professor Raimundo - que ao contrário da original, não tem graça nenhuma - e volte a merecer o respeito do cidadão.

Atenção senhores vereadores: Câmara não é apenas para legislar, mas para fiscalizar o poder público. E fiquem atentos. A verdadeira imprensa vai fazer o que muitos não fazem: vamos cobrar e fiscalizar. A essa missão a imprensa não pode fechar as portas.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

O verbo sem princípios - ortografia e informação

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Pensei em esbravejar contra a reforma ortográfica. Mas que nada. Pra quê? De que adianta ser contra, se uma turma de manda-chuvas da língua já decidiu executar o trema, ferir o hifen e criar um apartheid entre acentos?! De que adianta ser contra ou a favor, quando a gramática é simplesmente esquartejada em "textos" inventados por homens-bomba do ensino fundamental ao superior?

Eu devo ser um extraterrestre. Não escrevo bem. Tenho apenas um texto funcional diante das exigências da minha profissão, o jornalismo. Mas tenho minhas teorias sobre a nossa língua. Um bom exemplo é que não concordo em hipótese alguma com a escrita e a pronúncia da palavra "recorde", como insiste a maioria dos gramáticos e uma parte jurássica da imprensa brasileira. Se a palavra original "record" vem do inglês se diz "récord", porque então abrasileirar mudando a sílaba tônica? É óbvio e lógico que a forma correta deveria ser "récorde", assim proparoxítona e com o devido acento, como manda a forma original.

Sou contra o sepultamento do trema. Será que a criança é obrigada a saber, sem um sinal indicativo, que o U deve ou não ser flexionado ao pronunciar palavras como "lingüística" e "aqüífero"? E a velha mania dos exibicionistas - não raros socialites - em usar a inexistente palavra "qüestão"? Se já falavam de forma errada sem a palavra ter trema, podem agora ensinar aos filhos e aos futuros colunistas sociais que o assunto virou "qüestão" fechada. Haja paciência! Mas é inegável que muitos dos leitores das colunas desses promotores de festas passarão a ter menos motivos para se horrorizar. Alguns acentos, que eles sequer sabiam que existiam, caíram de vez! Agora é só aguardar a próxima reforma: a que vai exterminar a concordância verbal. "Eles vai comemorar dimais."

Não sou radical quanto a mudanças na língua portuguesa. Sou defensor e admirador da imensurável riqueza cultural que a falta de competência dos nossos governantes acabou gerando por todo o país. O brasileiro sabe aceitar seus dialetos porque ri da sua própria ignorância. É bonito e emocionante ver o jeito de falar do homem do campo; a forma como ele conta casos, inventa e reinventa palavras. Mas é triste quando se pensa que tudo isso é resultado, como quase tudo nesse país, da roubalheira dos maus políticos. Dinheiro que era para dar saúde e educação ao povo da roça foi e é até hoje aplicado em mansões, carrões, aviões, mulherões, e outros "ões" que jamais vão parar nas prisões.

Daí a gente pensa: para que então essas regras e essas mudanças nas regras? O que muda para Seu Adão que planta chuchu na Lagoinha? Ele mal sabe escrever o nome. O que muda para muitos dos nossos advogados e políticos, cuja maioria não sabe ler e por isso mal consegue se expressar? Como explicar isso para muitos dos recém-formados nas mais diversas áreas profissionais e, tristemente em cursos como Jornalismo, Direito, Medicina e até Letras! Sim, tem professores de português que decoraram o que é anacoluto, mas mal sabem interpretar uma notícia de jornal.

Que diferença faz para o leitor/telespectador que é testemunha de tantos erros diários na nossa imprensa? A começar pelos nomes dos nossos órgãos de comunicação, e passando por eslogans que assombram até as correntes arrastadas pelo já combalido esqueleto do nosso ofício. A Gazeta norte-mineira sem hifen. O Jornal é de notícias (como no original de Portugal)! O Norte estampa que escreve o que o leitor gostaria de dizer. Bom, não é bem assim que deveria funcionar a imprensa. Até a Academia Montes-clarense de Letras engole o hifen! Assim não dá.

Se formos buscar a origem do problema vamos parar na frase que abre a primeira página da criação, como diriam os crentes: no princípio era o verbo. E era mesmo o verbo. Ponto. A culpa é do verbo. A culpa é dos portugueses. A culpa pode ser até do Ruivo Hering! Mas e então? Nós, da imprensa, vamos escrever mal até quando? Até quando acreditarem que é porque somos mal pagos? Que o motivo é que atrasaram nosso pagamento? Erramos tanto e nem percebemos o tamanho e a gravidade do uso indiscriminado e desconexo das palavras por culpa da própria ignorância dos nossos patrões que não sabem o que seja FATO, INFORMAÇÃO e NOTÍCIA? A responsabilidade será então dos nossos professores de português? Então, não somos nós os culpados por escarrar na língua portuguesa a cada frase que vomitamos naquele papel branco, que exige quantidade sem tempo, sem grana, sem revisão, sem discussão, sem questionamento, sem EDIÇÃO?!

Como explicar a um jornalista iniciante, recém-formado ou àqueles veteranos cheios de vícios inerentes ao meio o que seria o tratamento da informação, por meio de uso de palavras que dêem o peso adequado à notícia, quando mal sabem o básico? Vivem trocando "ss" por "ç" ou "a" por "há"? Ou quando erram de forma espantosa a concordância com o plural? Como então explicar que não basta ser ético no caráter quando não se tem o domínio básico da língua portuguesa para expressar esse cuidado ético?

Meus amigos, não se trata aqui de bancar o sabichão. Estou apenas demonstrando, a cada artigo, que nós jornalistas somos sim co-responsáveis pelo atraso econômico, social e político que transforma a nossa amada Montes Claros numa das mais feias e desinteressantes cidades de porte médio do país. Que cidade da arte e da cultura que nada. Basta ver a cada Festa de Agosto ou do Pequi, o amadorismo, a falta de recursos e o descaso com as pessoas humildes que mantêm vivas as tradições do folclore regional, e que se vêem forçadas a desfilar com roupas, calçados e enfeites improvisados. Uma cidade sem teatro. Uma cidade que não valoriza o salão nacional de poesias Psiu Poético. Uma cidade sem festivais de música. Sem praças bem cuidadas. Tudo isso é nossa culpa sim! Em vez de babar ovo ou perseguir políticos, deveríamos estar ocupados em dar informação à população para que ela tenha ferramentas para lutar por seus direitos. Lutar por cidadania.

Em vez de dar força à formação do cidadão, estimulamos a bajulação de autoridades. As colunas cuidam mais de afagos a parentes e amigos do que a informação. Um lugar onde a imprensa é apagada é um lugar estagnado. Uma cidade onde a imprensa é negligente e avessa à notícia e ao profissionalismo no trato da informação é uma cidade condenada ao retrocesso. Então, diante desse mal maior que é o domínio da imprensa por políticos e profissionais que mal sabem o que é informação, ética e cidadania, de que adianta debater a queda de acentos e tremas?

Ainda há tempo para mudança e evolução. Se no princípio era o verbo, que tal usarmos o verbo para expressar e preservar nossos princípios?