quinta-feira, dezembro 11, 2008

MARISA MONTE E JULIETA VENEGAS

Vale a pena ver e ouvir. Marisa Monte ao vivo na gravação do DVD da cantora mexicana Julieta Venegas. Boa música e a voz de pétala de Marisa. Se você tem arranhado seu tímpanos com axé, cure-os com Illusión.

O QUARTO QUERER

Não é certo que a imprensa se julgue o quarto poder, e se deite na cama dos outros três poderes; ou pior, servindo de tapete aos demais. A imprensa é sim um poder, mas não esse que se apresenta como um câncer em cidades como Montes Claros.

Vivemos um tempo propício para se discutir imprensa, jornalismo, comunicação, ética. E discutir sempre é uma coisa boa. Eu relutei muito em escrever esse artigo porque imaginei que pensariam mal de mim; que não entenderiam o meu verdadeiro propósito, especialmente os que não sabem quem eu sou nem como trabalho. Mas mesmo que pensem o que quiserem não vou deixar de expressar os pensamentos que não são apenas meus, mas de muitos dos meus colegas de profissão, de professores e, claro, dos principais interessados na cadeia de comunicação.

Se a gente, que trabalha na imprensa (pelo menos no momento estou trabalhando), comenta tanto o trabalho dos colegas, a atitude dos chefes e patrões e sobre a reação do público, por que estamos parados, sem mover uma palha para mudar tudo isso? Se temos patrões que não são jornalistas e que, não raro, agem como se não tivessem sequer a mínima noção da missão da imprensa e do trabalho de um jornalista, porque ainda trabalhamos para eles? Por que se, além de trabalhar em empresas cuja roupagem é de imprensa mas cujo negócio passa bem distante da informação, nos subordinamos a salários ofensivos e nos curvamos a gritos, histerias desrespeitosas e ainda a “correções” de gramática, formato e conteúdo da notícia por parte de revisores nem sempre preparados (quanto a texto, técnica e ética) para a tarefa. Não trato aqui de diploma ou experiência. Mas que tem muita gente que confunde vivência com experiência, tem! Você pode viver num barco e não saber nada sobre o mar. Vivência. Experiência mesmo é evoluir com o tempo. É aprender com a longa prática.

Mas então como vamos mudar a cabeça dos nossos patrões para que enxerguem que o produto deles (seja jornal, telejornal, jornais de rádio, etc) não vende, não tem público, não é respeitado se não erguemos nosso próprio queixo quando somos destratados, humilhados ou temos nosso ofício esfaqueado pela insensatez de um dirigente da nossa empresa? Como também pedir respeito aos nossos patrões se muitas vezes não nos damos ao respeito? A cabeça de muitos desses patrões funciona assim: imprensa é para atrair dinheiro do poder público quando e só se consegue isso estampando manchetes chapa-branca; imprensa é para perseguir a quem não anuncia, a quem nos negou um favor pessoal, ao adversário político, ao concorrente do nosso anunciante... E por aí vai. Já sabemos que a coisa funciona assim em muitas empresas. Esses patrões não são jornalistas, mas se nós somos, com ou sem diploma, temos de mostrar a eles que estão agindo contra eles mesmos. Quem depende de uma única fonte – quase sempre do poder público ou de grupo político – vira refém. Quem publica notícia de verdade, de interesse social, de cidadania, de prestação de serviço ao leitor-cidadão, conquista anunciantes profissionais, anunciantes de verdade. E quem tem anunciantes de verdade não precisa nunca vender a alma (não a deles, mas a do leitor desavisado) ao diabo. Não é correto, não é ético, não é justo enganar o leitor/telespectador/ouvinte. O cara paga pelo nosso trabalho e, mais que isso, acredita no que escrevemos. Como é possível que o profissional que tenha vergonha cara durma tranqüilo depois de ser “obrigado” a produzir textos opinativos e altamente tendenciosos (ser sutil não é característica comum em nossa imprensa) em reportagens que nada têm de informação útil; depois de receber ordens para cortar ou incluir nomes, dados e fatos seguindo critérios não técnicos, mas pessoais ou políticos; depois de produzir notícias cujos meios de produção não passaram por apuração própria e nem sequer teve qualquer discussão de teor, peso ou objetivo.

É fácil falar quando não se leva em conta que, muitas vezes, não se tem dinheiro para pagar as contas de casa. E aí ter de completar a renda com servicinhos de assessoria que entram em choque com a ética profissional quando se misturam à missão de informar em um noticiário que o cidadão acredita ser isento. É fácil falar sim, e eu bem sei que não é nada fácil encarar os efeitos de se negar tudo isso. Não sou nem quero ser exemplo para ninguém, mas é muito triste que nós, veteranos da imprensa deixemos de herança um latifúndio de vacas magras que sejam obrigadas a mastigar capim seco e ainda tenham que se inflar diante dos flashes para sair bem na foto e sustentar nas patas trêmulas uma legenda doentia do tipo: “jornalista destaque de 2008”. Chega de colunas gratuitas. Chega de notícias ctrl+c/ctrl+v. Chega de releases na íntegra. É fácil encher página, quando não se importa com o conteúdo e não se respeita o leitor. Eles têm de contratar para lotar as páginas com NOTÍCIA!

Vamos ser francos. Nós não sabemos escrever. Não vivenciamos esse cuidado com o texto em nossa rotina asfixiada por redações enxutas e pela falta de estrutura. Mal dá tempo. Além de texto, faltam discussões (não se faz jornalismo sozinho. Não se faz jornalismo sem ter em mente o senso de equipe. Não podemos nos rebaixar ao datenismo). E dá-lhe falta de texto técnico, de informação, de coesão, de raciocínio... Dá-lhe falta de pauta! Falta de bagagem cultural pessoal! Texto não é o nosso patrão quem vai nos dar. Bagagem cultural, muito menos. Quem não lê, não escreve. Quem não escreve não sabe se expressar. Quem não se comunica... Vamos cuidar do nosso crescimento profissional. Isso ajuda na hora de negociar passo a passo a mudança de mentalidade da imprensa local. Quem sabe conseguimos tirá-la da idade média. Do tempo dos rábulas para a era do respeito aos direitos humanos e da informação.

Vocês já notaram que as redações são geralmente o pior cômodo das empresas de comunicação da nossa cidade? É cara de depósito, ex-banheiro... Falta telefone. Falta crédito para telefone. O papel é motivo de pedidos humilhantes. Nunca tem fita o bastante. O transporte, quando tem, não é adequado. Microfones estão sempre com algum problema. Falta estrutura. E, no entanto, somos vistos como um peso pelos administradores. Jornalismo gasta demais e não traz nada para a empresa! Essa gente não entende que o bem que o bom jornalismo traz não tem preço, não tem valor. É a credibilidade. E quem diz “dane-se a credibilidade” só pode ser asno. Vira testemunha do descrédito do seu veículo de comunicação. A mãe, o amigo, a mulher, podem viver aplaudindo as fotos ou reportagens de parentes e amigos, mas a população NÃO ACREDITA no que lê. E em mídia, quem dá as costas à opinião pública e ouve só o espelho, assina a morte da credibilidade. E aí passa a viver da “monocultura anunciante”. Afinal o que mais querem se as reportagens estamparem as vacas infladas, mesmo que estejam agonizantes?

O que não pode, meus colegas, é o profissional que tem boa índole participar disso tudo. Por mais gente boa que seja ou que pareçamos ser, é preciso batalhar pelos ideais de nossa profissão porque ela já agoniza há um bom tempo. Só não é justo que sejamos enterrados com ela. Deixem a vala aberta apenas para quem não reconhece o jornalismo também como missão.
Aos que não sabem onde trabalho agora, sou editor do Jornal Geraes, na TV Geraes. Ao propor a minha volta ao jornal, a direção da emissora deu garantias de que o jornalismo tem independência e liberdade de expressão. Acredito e aceitei. É o que devemos fazer, ainda que o patrão ofereça salário longe do ideal, mas respeitando o piso definido pelo sindicato, devemos nos valorizar e exigir respeito ao ofício, aliás, como deve fazer qualquer outro profissional.

Se prometem e não respeitam os preceitos da nossa profissão, exija novamente. Se insistem, peça demissão. Há vida profissional e que possa ser conduzida com ética longe das redações e estúdios. O jornalista com pós-graduação pode ser professor em faculdades; pode ser assessor com atitude inovadora; pode criar site e batalhar sua sobrevivência com humildade e independência. E se não for formado, que procure onde o aceitem sem diploma mas com respeito ao seu ofício. Não podemos deixar ninguém mandar na notícia. A notícia não tem dono. Vamos fazer um jornalismo de fatos e não de nomes.

Um jornalismo bem escrito. Informações bem apuradas e textos realmente revisados. Um jornalismo que não se contente com a primeira palavra, a primeira frase, a primeira versão. Jornalistas que leiam, ouçam e realmente perguntem e cuidem com zelo do resultado final. Um jornalismo que não pergunte odiando, que não pergunte puxando saco: que as perguntas sejam bem formuladas, objetivas, respeitosas, mas também questionadoras.
Um jornalismo que respeite os direitos humanos. Que não tema, mas sim respeite as autoridades.

Um jornalismo que não permita que o direito do cidadão à informação não seja cerceado por qualquer tipo de interesse. Uma imprensa que não vete nomes de adversários, inimigos e não anunciantes. Uma imprensa que não favoreça amigos, colegas nem anunciantes. Uma imprensa de notícias. De informação.

O que proponho é que nós jornalistas não entreguemos as ferramentas básicas do nosso ofício – ao qual devemos e juramos usar em benefício da cidadania – às sedutoras e muitas vezes burras mãos de quem nada tem a ver com a missão da imprensa e está se lixando para o verdadeiro interesse público.

Vamos nos encontrar, vamos discutir. Patrões e empregados. Não adianta perdermos parte de nossas vidas resmungando sobre a atitude de nossos patrões se nós mesmos estamos contribuindo para que essa forma de fuzilar a imprensa se perpetue. Vamos repensar a imprensa local acima de salários e interesses pessoais. Vamos parar de registrar de modo tão vergonhoso e deturpado a história dessa terra, dessa gente. Vamos assumir uma mudança histórica, e aí sim fazer parte dela aceitando com humildade o fato de que dela não somos donos nem protagonistas nem manipuladores. A história acontece.
Para que sejamos e exerçamos o verdadeiro poder da imprensa, precisamos querer.
Pense bem.
Você quer?