terça-feira, agosto 25, 2009

ISSO NÃO É TROTE. É TROTE!

Quase todo dia tem um grupinho de quatro a sete jovens pintados dos pés à cabeça pedindo dinheiro no cruzamento das avenidas Mestra Fininha e Deputado Esteves Rodrigues. São calouros de alguma faculdade; na esmagadora maioria, particular. Então não é trote. É trote!

Competindo com os deficientes físicos que pedem esmola no local, os novos "gênios" universitários se sentem orgulhoso em aparecer melados de tinta colorida, feito um abadá enlameado se arrastando com um sorriso no rosto. A maioria passou em faculdades particulares; ou seja, os calouros foram convocados a pagar pra fazer o curso. Nada de errado. Mas onde está então o sabor da conquista? O trote não passa então de um trote. O trote não vale nada.

Pior que isso é quando penso na massa inculta e despreparada que esses cursos que se multiplicam às centenas em cada esquina, como "templos" evangélicos e lan houses. Dá um templo! Quero dizer, dá um tempo! O que vai ser dos nossos filhos e netos? O que fazer quando uma jornalista não sabe quem é o presidente da Câmara, e ainda diz: "câmera"? Essa pérola saiu ontem da boca de uma linda loira jornalista, na série de testes para a vaga de oitavo integrante do programa CQC. Ainda bem que meu cachorro nunca vai ler qualquer notícia feita por esse tipo de profissional da aberração.

Não é só jornalista. Vá a qualquer curso superior e desafie alguém a fazer um texto qualquer em que pelo menos dois parágrafos tenham uma gramática decente e uma coerência razoável. Pode-se contar nos dedos. Os cursos superiores abrigam hoje o reflexo dos cursos fundamentais mal conduzidos e mal feitos: uma massa de analfabetos funcionais. Grande parte tem um ritmo de leitura semelhante ao dos piores gagos. Não escreve nada bem. Pior: não conseguem captar a mensagem. É vergonhoso.

Nas escolas de jornalismo, o que vejo hoje é que realmente falta estrutura para que os professores levem a prática para dentro da universidade. Mas o que mais dói é ver o estudante de jornalismo que não se interessa pela matéria-prima da carreira que escolheu. Os caras não assistem aos jornais. Não se informam nem se interessam pela notícia nem mesmo quando navegam na internet. Não querem aprender a ler e escrever corretamente. Não se esforçam para, além disso, ler e escrever tecnicamente para que a nossa língua seja usada devidamente na profissão: uma ferramenta que transforme fatos em notícia; que seja o meio pelo qual se questione, ajude a explicar e se faça entender; com a qual se procure a justiça, a verdade, a isenção e a cidadania.

A língua portuguesa é o esqueleto do jornalismo, e não apenas um decoreba de cursinho caça-níqueis para vestibular. A palavra é a mais poderosa das armas. Faz e desfaz. Acusa e inocenta. É capaz de ferir de forma irreversível! A nossa língua não pode nem deve ser tratada, como quer a turminha do STF. Mas cada vez que vemos estudantes cravarem suas unhas tão agressivamente na gramática e, conseqüentemente, no cerne da informação, me sinto então o cozinheiro de Gilmar Mendes, preparando um fubu sem ter a capacidade de retirar o veneno.

Chega de patricinhas querendo ser Fátima Bernardes e malucos se achando que tirar fotos em micaretas ou virar reboque de carro da polícia é jornalismo. A palavra é para se comunicar. Jornalista é operário da informação. Se não sabe entender o mundo e se comunicar com ele... Vá ser professor de trote na esquina da Sanitária!