quarta-feira, abril 08, 2009

DIA DA IMPRENSA: 7 de abril ou 2 de novembro?

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Na caixa de email, três mensagens de congratulações pelo dia da imprensa. Uma da agência de comunicação de Ana Maria Barbosa, uma das melhores em sua área. Uma outra da direção da Coteminas, e outra da Gerência Regional de Saúde. Vá lá...


Estranhei o email da Coteminas, sempre de portas fechadas para a imprensa local. Quanto à Gerência Regional de Saúde, a gente sempre fica com um pé atrás, depois do episódio da farmácia Minas Brasil. A equipe da TV Geraes tentou filmar o material - uma tonelada de produtos apreendidos por fiscais da Anvisa e Polícia Federal -, mas não conseguiu. Só fulano autoriza, e ele não está.


Melhor seria que o dia da imprensa fosse comemorado em dois de novembro. O que não falta é gente pra jogar terra em cima. Infelizmente, muitos são jornalistas! Uma cambada de maus profissionais que infesta redações e geerência de veículos de comunicação, sem sequer ter qualquer compromisso com a informação.

Na Inter TV, a equipe de jornalismo sempre penou com essa situação. A empresa comprou o que restava da Grande Minas - que ao contrário do que muita gente pensa, tinha gerentes com salários de marajás bancados pela Rede Globo, e nós jornalistas muito mal pagos -, e apesar do corte cruel e desrespeitoso de funcionários e horas extras, jamais se dedicou a melhorar as condições de trabalho para os jornalistas. profissionais dedicados, muitos nem exigiam aumento salarial, nem horas extras, mas pelo menos equipamentos novos, decentes. Fitas! Seria pedir demais? Equipamento de vivo! Difícil demais, para uma empresa que se orgulhava de ser a mais rentável das emissoras do interior? Que nada. Nada para o jornalismo. E é assim que tem sido, não apenas com a maior emissora de Montes Claros.


Falidas pela má administração, como a Grande Minas, acabam compradas pelo que chamo de sistema Independence Day. Lembram do filme? Então! Grupos empresariais que nada têm a ver com comunicação pousam sobre essas emissoras regionais, e ficam aí devorando verbas comerciais como faziam os gafanhotos extraterrestres do filme. A colheita vai para a empresa-mãe, cujo negócio jamais foi, não é, e dificilmente será INFORMAÇÃO. O que vemos no ar, não tenham dúvidas, é até hoje resultado do empenho individual de uma turma - cada vez menor - de profissionais que ainda se esforçam pelo compromisso com a notícia, e com o telespectador. Importante destacar ainda que a receita vale também para outros setores vitais da empresa, como a engenharia. Assim como as redações costumam ser uma espécie de estorvo para empresas de "comunicação", a engenharia, responsável por levar a informação até nossas casas, costuma viver em meio ao que poderia se chamar de oficina de fundo de quintal para restauração de sucata. Na TV Geraes, nem engenharia temos. A nova direção tenta recursos por meio de projetos de incentivo à cultura, para tocar uma transformação na emissora. Como na Intertv, um dos maiores problemas da TV Geraes é o sinal. Guardadas as proporções, os telespectadores das duas emissoras sofrem com a falta de qualidade.

Na TV Geraes pegamos o sinal da Redeminas, que tem um jornalismo típico de servidor público. Não tem jornal nos feriados. Na virada do ano, quando Belo Horizonte foi vítima de uma tragédia histórica - o temporal que devastou parte da cidade - não havia jornal Minas! Pior: quando questionei porque não cobriam os trabalhos da Assembléia Legislativa, a jornalista reponsável pela rede disse que é melhor não cobrir porque dá muito problema!!! Bom, ainda bem que não é a Redeminas que cobre Brasília para o restante do país!

É tanta coisa errada e bizarra na imprensa, que acabei me desviando do foco do artigo. Mas nunca é demais lembrar: quantos jornalistas sérios você viu por aí andar de Audi? Eu conheço muitos que, apesar de terem feito tudo certo na carreira e terem evoluído sempre, mal conseguiram um fiatzinho. Alguns têm Uno. Outros Pálio. Outros têm até um carrinho melhor, mas pode conferir: trabalham em alguma atividade paralela - assessorias, comércio, etc. A maioria anda à pé, de bicicleta, mototáxi... Mais triste ainda, tem os que não saem de casa. Estão sem emprego.

Muitos jornalistas sem emprego. E tanta gente se dizendo jornalista por aí. Já repararam como todo mundo quer dar palpite em jornais? Como engenheiros, políticos, dirigentes de órgãos públicos, pedagogos, consultores de vendas, - e até donos de jornais! - entre outros, estufam o peito e avançam para dizer em tom de imposição o que devem ou não devem fazer os jornalistas no trato da notícia?

E aquele papo de boteco - freqüentado por políticos - de que jornal só valoriza notícia ruim. É sempre divertido ouvir essa gente falar tanta asneira. Claro que políticos não gostam da imprensa de verdade, porque costumam viver num mundo de mentiras. O que poucos entendem é que jornal trata de notícias. Trata de reportar fatos. Jornais não tratam do que não acontece, exceto quando o fato inexistente deveria estar acontecendo. É o buraco não tapado. A obra inacabada. O processo parado.

Os salários dos jornalistas, como já disse em outros artigos, são ofensivos. Eu e minha equipe na TV Geraes trabalhamos com salários baixos também. Mas até o momento a empresa está cumprindo seu mais importante compromisso, não apenas comigo, mas com o telespectador: o Jornal Geraes não cede a qualquer tipo de pressão ou interferência interna ou externa. E embora haja muitos boatos sobre a Intertv, ainda acredito no trabalho, na isenção e no esforço da equipe de Lílian Câmara. Comentários sempre surgirão: se sai uma reportagem em que a população reclama de problemas ligados à cidadania, dirão que "estão batendo na Prefeitura"; se o telejornal exibe uma reportagem que mostra uma boa iniciativa de uma secretária municipal qualquer, vão dizer que "a grana tá entrando lá". Por isso, cabe a quem elogia ou denuncia, apresentar argumentos.

Mas por falar em Intertv, uma boa notícia é que finalmente está no ar o site de notícias da emissora. O nome "in360", nem é preciso comentar muito, vindo de uma equipe de marketing (creio eu) que elaborou e ainda, na época da mudança da logomarca da emissora, nos fez rolar de rir com uma explicação infantil para aquele sanduíche com as cores do arco-íris. A logomarca do "in360" é bonita. Mas em nada aquela peça de engrenagem pode ser associada a jornalismo ou aos tais 360 graus. Em nota no MGTV, a empresa explica que o "in" é interior, e "360" se refere ao giro total pelo mundo da notícia. Difícil é entender porque não associam o portal ao nome da emissora.

Mas fora essa questão semiótica (ou seria "sem ótica") e metafísica da equipe de marketing, a chegada do site é importante. Só quem lida com notícia diriamente sabe o quanto é fundamental essa interação de mídias. O contato direto do telespectador-internauta com a equipe de jornalismo. A divulgação de notícias na internet para quem perdeu os telejornais do dia. E até mesmo para apoiar o "jornalismo de eventos", que sustenta os bons resultados comerciais da empresa, já que o espaço no MGTV é sempre curto para divulgar as imensas listas de duplas vencedoras de vaquejadas e os resultados das rodadas dos torneios de futsal. O site é bem acabado. Não é pesado. É bastante funcional, e agradou aos internautas. Até as 4 da madrugada desta quarta-feira, 8 de abril, a enquete sobre a opinião dos visitantes apontava uma aprovação de 85%. Dos 842 votantes, 510 disseram que o "in360" é ótimo, 213 acharam o site bom; 51 consideram o site regular; 17 acham que está ruim; e para apenas 51, o "In360" é péssimo.

Não chega a ser um portal do nível do Grandeminas.com, comandado com competência por Aluísio Cunha, hoje assessor de comunicação da Novo Nordisk. O Grandeminas.com hospedava vários outros sites, alimentados por um sistema centralizado na emissora, e com parceria do departamento de jornalismo.

Para manter o site da Intertv atualizado foram contratados dois estudantes de jornalismo para estágio remunerado. Trabalharam na Tv Geraes. São dedicados e bons de serviço. Jornalista mesmo, que eu saiba, o site local não empregou.

Apesar da internet, ainda acho que dois de novembro deveria ser o dia da imprensa.
Os jornais são repetitivos e mal feitos. Mal escritos. As faculdades de jornalismo sobrevivem a duras penas: sem estrutura, sem salários, sem pagamentos em dia, sem donos que sequer sabem o que é imprensa. Os estudantes estão em fuga.
A falência dos cursos vai alimentar a verborragia descarada daquela gente que cisma que produzir notícia é divulgar nomes e não fatos.

O Jornal Nacional não deu uma linha sequer sobre a visita de Lula a Montes Claros. No Jornal da Globo, o repórter Luís Gustavo puxou parte do que disse Lula para um assunto nacional e assim citar a inauguração de "uma usina de biodiesel" "no norte de Minas". Ele veio à cidade, fez passagem aqui e nem sequer citou que estava em Montes Claros. Isso não é apenas retrato do descaso com que a maioria dos cabeças do jornalismo da Globo até hoje trabalha como servidores públicos. Não se interessam por nada fora do eixo Rio-São Paulo, exceto bizarrices. E quando a empresa de "comunicação" não tem como negócio a informação, não há como ter argumentos. Infelizmente o negócio da Intertv não é notícia, como é na Rede Integração e na RBS.

Por isso, repórteres locais que sempre sonharam aparecer em Rede vão ficar velhinhos de barba branca fechando telejornais a mil e 500 reais por mês. E eu quero tanto estar enganado quanto a isso, mas infelizmente é o que se constata. Não é por falta de mérito, não. É que em geral as chefias de jornalismos de empresas-gafanhoto costuma querer fazer bonito para a Rede, em detrimento dos telejornalismo local. E os coordenadores regionais não tem como dar estrutura para fazer a cobertura ideal em sua área de atuação. Resultado, os chefinhos carreiristas são transferidos ou promovidos, e os jornalistas locais e telespectadores ficam na rima.

Ser coordenador regional hoje é bem diferente do que deve ser um editor regional. Desde a chegada da empresa-gafanhoto, o cargo entregue a um jornalista para comandar a equipe local virou uma espécie de apontador de horários e elaborador de escalas de trabalho e de férias. A edição não é prioridade. Eu não me apaixonei pelo jornalismo, e pela missão social que temos em nossa profissão pra me reduzir a isso. Acho que jornalistas devem discutir bastante a realização de reportagens - minhas reuniões de pauta sempre foram demoradas - e não apenas se trancar numa sala para se tornar o controlador de horas extras, ou coisa pior. É preciso discutir e pensar a notícia. Só jornalista de verdade faz isso. Não me surpreenderia se trocassem o jornalista por um fiscal de obra da construção civil.

Acabei falando muito da Intertv. É que é o maior e mais importante órgão de imprensa da região. Foi também onde mais tempo fiquei. E também porque falei demais sobre as bizarrices dos jornais impressos nos outros artigos. Eu vou batalhar outra profissão. Talvez coveiro: dois de novembro está chegando.

segunda-feira, abril 06, 2009

OBLÍQÜO

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Pra onde apontas
Pra onde vais
Que tanto chamas
Enviesado e quente

Caminho mais que torto
Perpendicular à razão
Pra onde inclinas
Pra onde levas
Provocador
de taquicardia
Dissimulador
de sentidos

Nada inóquo

E a direção porosa
para a qual seduz
não te decifra
nem te encobre
não enferrujas
ferro nobre.

O caminho que abres
estopim dos mais curtos

Provocas
sem contudo forçar
Permites
com todas as negativas

Avanças
Em recuo.

Mas deslizas
corrimão de fibras
cruza-pés

Deseclipsa conjuntivas
e dói.

Deliciosamente.

Numa felicidade preguiçosa
numa acomodação de ossos
num desfalecimento de músculos...

Pálpebras de chumbo.

E por fim um suspiro
um suspiro zonzo
e o coração boceja...