quarta-feira, abril 21, 2010

O MELHOR DO ESPORTE

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Independentemente de o primeiro finalista da temporada 09/10 da Superliga Nacional de Vôlei ser um time com sede em Montes Claros, eu teria pela equipe a mesma grande admiração. Há ali, mais explicitamente em Lorena, a paixão pelo jogo. O tesão que faz o esporte ser o que é em toda a sua essência.

Eu acompanho o vôlei, e muitos outros esportes olímpicos desde minha juventude, como já disse aqui em outro artigo recente. Não importava tanto a vitória da seleção feminina de basquete quanto ver a garra, a técnica e a paixão de Hortência. Quando é assim, a própria vitória se torna indispensável. A história está aí para não me desmentir. Basta lembrar que a seleção de Telê Santana na Copa de 1982 é uma das mais respeitadas e elogiadas de todos os tempos. E não foi sequer semifinalista!

É sobre essa beleza do esporte que estou falando. É sobre o comportamento de atletas como o oposto Lorena, do Montes Claros. Desde os primeiros amistosos, disputados no ginásio da AABB, no ano passado, ele foi angariando os pontos que resultaram na classificação do time para a grande final da Superliga. Comemorava os pontos feito um louco correndo em direção à torcida e depois dando peitada nos companheiros. E era um amistoso! Um time recém formado numa cidade estranha. Ele que acabava de chegar da Europa. É o típico atleta de sangue nos olhos. Claro, que não é apenas isso. Lorena tem alto nível técnico - não à toa está na briga por uma vaga na seleção de Bernardinho que vai disputar o nono título da Liga Mundial. Mas não basta só técnica. O que faz um atleta ser excepcional é a paixão pelo esporte, não importa a forma como ela se manifesta. Se com a frieza de um Alan Prost ou a explosão patriótica de um Ayrton Senna.

Os amistosos revelaram ao então pequeno público não apenas um time de vôlei, mas uma equipe de alto nível técnico que, de forma humilde mas aguerrida, estava disposta a defender a cidade que o recebia. Atitudes como as de Lorena e do também apaixonado Rodriguinho ajudaram a lotar o abandonado ginásio Tancredo Neves, um elefante branco construído pelo então prefeito Luiz Tadeu Leite às vésperas das eleições em que derrotou jairo Ataíde, atual aliado. Vale lembrar que, na mesma época, foi também construído o novo mercado central - as duas obras, com uma capa monumental mas sem o menor cuidado com acabamento, infra-estrutura básica, e sem qualquer respeito a feirantes e atletas. Hoje, esse mesmo ginásio - ainda uma vergonha para o nosso esporte - ganhou um novo piso para esses "estrangeiros" que aprenderam a ser respeitados pela cidade e até ganharam torcida organizada. Afinal, não se pode pedir que os torcedores de Cruzeiro e Atlético deixem de ir ao Mineirão ou passem a torcer pelo América só porque não há mineiros em campo!

Além de Lorena, o time tem um elenco muito bem montado. Craques com grande experiência em Superliga Nacional e ligas européias (França, Itália e Portugal), como Ezinho, Tiago Brendle, Thiago Salsa, e grandes e decisivas atuações de Piá, Diogo e do central Acácio, um gigante no meio de rede.

Agora, não importa se todo o esforço da temporada se resumirá ao resultado de um único jogo - conforme acordo entre os times e a Rede Globo. Não importa mais o resultado em si. O fato é que a união desses jogadores já é campeã. Um grande desafio será manter a base da equipe. Acredito que, com uma temporada tão impecável, Lorena e Rodriguinho dificilmente ficam.

Deram uma alternativa de espetáculo saudável ao montes-clarense, já enjoado - e em muitos casos enojado - pelo excesso de micaretas. Afinal, de que adianta criticar os supostos altos salários dos craques do vôlei, se quase todas as prefeituras da região vivem investindo em atrações pernas-de-pau do axé? A coisa é tão séria que já parece obrigação a ser incluída em orçamentos municipais.

Agora, sem poder ir a São Paulo, resta ao montes-clarense torcer... Torcer para que o time, seja qual for o resultado da final, resista a outro grande adversário: a sobrevivência pós-eleitoral.

Ps.- Ainda tenho muito dizer e vou voltar a falar de esporte. Por exemplo, nós, cidadãos, queremos saber o orçamento do esporte. Quanto é aplicado no vôlei, quanto é aplicado em ciclismo, em basquete, em esporte adaptado, natação, futsal, futebol, etc. E espero que a secretaria de esportes não esconda essa escalação, nem tire o time de campo. Até mais!
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