segunda-feira, abril 12, 2010

POLÍTICOS - NOSSA PIOR TRAGÉDIA

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A água da chuva e a lama da desonestidade atolaram de vez aquela ilusão de que o Brasil é abençoado por deus e livre de guerras e catástrofes naturais. Era comum se dizer: aqui é o paraíso; estamos livres de terremotos, furacões, vulcões, etc. Mas a verdade é que não conseguimos escapar dos efeitos da pior das catástrofes: a atuação da imensa maioria dos nossos políticos.

Essa gente que se elege para fazer carreira; resguardar a herança de poder, a manutenção das dinastias dos velhos e novos coronéis; para realizar o vil poder da revanche; para ajudar a assegurar leis que protejam seus aliados, seus amigos, parentes, e até mesmo o crime organizado.

Segundo o site "Congresso em foco", o número de processos contra deputados e senadores aumentou em 51% desde o início da atual legislatura. Pulou de 101 para 152.
Com tanto parlamentar com possibilidade de ter a ficha suja, infelizmente o projeto Ficha Limpa jamais será aprovado. E acredito que nem mesmo com a aprovação, a camada mais suja da nossa sociedade (que é a que vive permanentemente sem a menor noção de escrúpulos, respeito, senso de ética e humanidade) deixará de comprar seu acesso aos poderes legislativo e executivo.

Dessa rede também faz parte a maioria dos prefeitos brasileiros. Políticos que têm demonstrado (não é de hoje isso, não - bem sabemos) que chega aos governos municipais para beneficiar cabos eleitorais, amigos, empreiteiras; enfim, se dar bem. Não querem saber de cuidar de melhorar a qualidade de vida da população.

Como eu já disse em outros artigos, um deles publicados no falecido Grandeminas.com, essa teia de velhas raposas que não se renova há décadas, gosta muito de usar a palavra povo, para separar bem: políticos com ou sem mandato e povo. O que é povo para essa corja? A massa que o elege. Como se faz nas seitas evangélicas de portinhas de esquina, é aplicar o marketing barato do berro, do grito, e da promessa. Uma receita que até hoje dá resultados. Elege quase sempre os mesmos políticos, e explora sempre - em número cada vez maior - os mesmos cidadãos.

Assim, fica difícil conscientizar o cidadão de que povo somos todos nós. Mas que cidadãos, só tem sido uma minoria privilegiada e, não raro, favorecida. POLÍTICO, com ou sem mandato, NÃO É NOSSO DONO, NOSSO PATRÃO. POLÍTICO é eleito para SERVIR AO CIDADÃO. POLÍTICO é NOSSO SERVIDOR. Ele é pago para cuidar do nosso bem-estar. Se o faz, não é mais que obrigação. Se não o faz, tem de ser cobrado sim; e se pratica atos ilegais, tem de ser processado e punido, sim!

Veja o caso dos desastres que assolam o Rio, que feliz ou infelizmente, é o retrato do nosso país. Ali está a imagem, a cara da nossa política. A exposição crua da nossa grande tragédia. A guerra, que pensávamos estar bem longe, e o desrespeito à vida humana escancarado nas enchentes e desmoronamentos. Guerra sim, nunca assumida, mas estampada como um diário da Faixa de Gaza brasileira. Os traficantes e milícias são nossos terroristas. E os cidadãos do Rio são suas vítimas constantes. Ali, não tem político corajoso capaz de encarar a verdadeira guerra. As recentes catástrofes provocadas pela chuva não são fruto apenas da força da natureza, mas da inoperância dos governantes. É lixão "escondido" no centro de grandes cidades. É falta de urbanização. É pobreza extrema amontoada em morros. Não foi a chuva que matou tanta gente. Foi o lixo da política. A lama da corrupção. A falta de profissionalismo na administração das cidades.

Joelmir Beting resumiu um pouco como a questão do saneamento é tratada em nossas cidades: "o Brasil é o único país que não deposita lixo pra baixo, empurra lixo pra cima". As enchentes e a guerra do tráfico no Rio se equivalem à nossa seca prolongada aqui. Moeda eleitoral antiga, enferrujada, banalizada, mas tristemente ainda valorizada no meio político. A seca nunca foi o verdadeiro problema. Todos bem sabemos. A falta de reservatórios de água, sim.

Até hoje politiquinhos locais ainda usam jornalistinhas locais para espalhar o "drama da seca" "o sofrimento dos flagelados". Mentira mais sangrenta que a carne que essa gentalha devora ainda quase crua nos encontros, seminários e almoços de churrascaria. O escândalo que fabricam com os dados da Emater sobre centenas de rios que secam, milhares de cabeças perdidas no rebanho, e até vidas humanas em risco... Tudo moeda eleitoral. Não é a natureza a responsável por tudo isso. São eles mesmos, com ou sem mandato; somos nós mesmos, "imprensa", que mal sabe ler e escrever, muito menos questionar. Também pudera: como questionar se muitos "jornalistas" vivem da troca de favores que, direta ou indiretamente, ajudam a dar sustentação política à mentira. As notícias que se lê em Montes Claros são construídas em dois substantivos: bajulação ou perseguição. E dependendo do jogo do poder, a troca de substantivos é sazonal.

A esperança brasileira é a renovação política, mas não a enxergo ainda. Pior, a grande "renovação" tem sido no campo religioso. Cada vez mais pastores se aproveitam do seu rebanho para transformar dízimos em votos. Deve haver, claro, alguns que realmente querer levar cidadania aos seus crentes. Mas vejo um futuro temeroso, em que teremos que escolher entre uma ditadura de seitas evangélicas e o império do crime organizado. Pensando bem, que diferença faz?
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