quarta-feira, abril 01, 2009

POLÍTICA, POLÍTICOS, POVO E CIDADÃOS

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A nova legislatura da Câmara Municipal de Montes Claros completa três meses de trabalho com duas atitudes das mais vergonhosas. A casa do povo fechou duas vezes as portas para o povo. Uma covardia, como tantas outras que acontecem na política nacional, que tem de nos levar a uma reflexão mais clara e objetiva sobre o que é ser político e o que é ser cidadão, e o papel de cada um.

Na terça-feira, 31 de maio, a reunião da Câmara foi suspensa, segundo a direção da casa, por falta de condições de segurança para prosseguimento dos trabalhos. A medida foi tomada depois que o plenário foi "invadido" por estudantes que faziam apitaço cobrando a regulamentação da lei do meio-passe no transporte coletivo. A lei foi aprovada às pressas no redemoinho da campanha eleitoral, no ano passado, e determina passagem de ônibus urbano 50% mais barata para estudantes.

Os jovens teriam invadido a Câmara? Cometeram algum ato de violência? O que a imprensa mostrou foi o barulho dos apitos e um ataque de bolinhas de papel aos vereadores. Se a Câmara é a casa do povo, por que não dar voz à juventude, ainda que supostamente articulada por manipuladores políticos? Por que, em vez de cancelar so trabalhos, os vereadores não decidiram aceitar os acontecimentos e oferecer (se não por gentileza, mas por obrigação mesmo)o microfone da tribuna para os estudantes darem seu recado?

Mas então, aquela juventude só foi útil durante a campanha? Na primeira vez que procuram apoio dos vereadores o que ganham é porta na cara? Não à toa, os estudantes gritaram no plenário - e o município inteiro já questiona - "cadê a oposição?". Que milagre é esse que acontece na Câmara? Um lugar onde não existe diversidade de opiniões, não há discussões. Onde não há discussão, não há democracia. E os primeiros sinais da falta de democracia já foram escancarados: no dia em que a Associação de Surdos marchou para pedir acesso gratuito ao transporte público, como os demais portadores de deficiência, a Câmara estava de portas fechadas. Os vereadores fizeram uma homenagem às mulheres no dia anterior, e tomaram a sessão como trabalho. No dia seguinte: nada de reunião!

Por que políticos correm tanto do povo? Do povo, não correm não. Correm é do cidadão. Fácil explicar: durante a campanha, cidadão vira povo. Povo é massa, na qual os políticos não se incluem. Costumam dizer: "o povo isso; o povo aquilo; é para o bem do povo". Povo não é gente. Povo é porta-voto. Povo é cabo eleitoral... É diretora de escola... E outras pessoas que, não raro, adoram chamar político de doutor, tirar foto ao lado do "doutor", para ver se consegue melhoria pessoal. Gente que trabalha na eleição e não recebe mais que um pão com mortadela. De olho na vaguinha. De olho na nomeação. Esse povo também alimenta a espécie de político mais comum no mundo, que é essa que estampa diariamente o noticiário na internet, nas rádios, nas tv´s e jornais impressos. Gente que mexe com castelos; com obras inacabadas; prefeitos que têm processos arquivados por juízes camaradas; políicos que pagam por notícias mentirosas preparadas por jornalistas sem ética, etc.

Se você não sabia, guarde para nunca mais esquecer: político gosta de povo, mas morre de medo do cidadão. Quem vota é o povo. Quem fiscaliza e cobra é o cidadão. Por isso, vereador caga de medo quando cidadão ocupa plenário (não defendo ocupação violenta e com vandalismo). Mas plenário é do cidadão. NINGUÉM tem o direito de tomar dele a cadeira. É o povo, o cidadão, quem elege essa gente. Está na hora de a gente acordar: vereador, prefeito, deputado, presidente, governador. Todos eles são nossos empregados. Servidores! Merecem respeito, sim, mas como qualquer outro cidadão. Não é por ser autoridade. Ninguém é mais autoridade que o cidadão honesto. Mas o servidor tem que nos prestar contas. Do vereador ao presidente da República. Essa gente é paga com o dinheiro do cidadão.

E cá pra nós, quantos políticos verdadeiramente são políticos? Os que têm mandato? Nem todos. Sabe quem faz é político de verdade - e de honestidade? Vamos citas uns exemplos: Padre Henrique, que vive trabalhando para ajudar os mais necessitados; Cida, uma anônima que recolhe e dá assistência a animais abandonados e maltratados; é Aroldo Pereira, que batalha há décadas pela poesia; é o delegado Saulo Nogueira, que é um caso raro de integridade e luta pela segurança pública. Essa gente sim faz política. Existem muitos outros nas mais diversas áreas. Poucos se candidatam. Temem - e com razão - ver seus nomes misturados à mesma lama de porcos que bem conhecemos. Ser político é trabalhar por um rua melhor, por um bairro melhor, por uma vida melhor para si e para os outros.

Ser político não é legislar em causa própria. Não é receber trocados para se aliar ou ser contra outros politicos. Ser político não é passar quatro anos se dedicando a mudar nome de ruas e praças e votar homenagens para amigos e gente que possa lhe render benefícios pessoais. Também não adianta praticar a boa política, conquistar um mandato e mudar o rumo da sua trajetória. É preciso se respeitar e manter-se fiel aos princípios da ética e da cidadania.

Não defendo aqui uma oposição barata, também tão vendida quanto os que se entregam a quem está no poder. Mas oposição no sentido de opinião própria e que leve em conta o bem-estar da população. Essa legislatura que tem, sim, políticos de boa origem: Valcir, que vem da luta pelos direitos dos deficientes, e outros novatos como um pastor que batalha para livrar jovens do mundo das drogas. Justamente desses políticos se espera uma atitude corajosa e livre! É neles que a população confia e espera que a Câmara Municipal deixe de ser uma escolinha do professor Raimundo - que ao contrário da original, não tem graça nenhuma - e volte a merecer o respeito do cidadão.

Atenção senhores vereadores: Câmara não é apenas para legislar, mas para fiscalizar o poder público. E fiquem atentos. A verdadeira imprensa vai fazer o que muitos não fazem: vamos cobrar e fiscalizar. A essa missão a imprensa não pode fechar as portas.