terça-feira, dezembro 30, 2008

Jornalista ou mulher de malandro?

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Mais um fim de ano de grana curta para a maioria dos jornalistas de Montes Claros - como se durante o ano fosse diferente.
Fui informado que somente esta semana o jornal O Norte pagou o que devia aos seus jornalistas - o pagamento estaria atrasado há três meses!
A turma do Jornal de Notícias até o começo da tarde desta terça-feira, 30 de dezembro, não havia recebido o salário de novembro nem o décimo terceiro.
Na TV Geraes, onde trabalho, o décimo terceiro ainda não foi pago. A previsão é de que saia no começo da semana que vem.
Não sei ainda se houve atrasos nos demais órgãos de imprensa. Nossos colegas têm medo de falar.

O mais triste nisso tudo é que, trabalhando sem estrutura e sendo muitas vezes explorados sem os devidos direitos garantidos por lei, muitos jornalistas ainda são maltratados pelos chefes! Agora eu pergunto, e isso serve para quê? Que salários milionários são esses que justificam tamanha soberba e desrespeito por parte dessas empresas? O simples fato de perguntar quando vai sair o pagamento já atrasado provoca reações medievais na turma do cofre.

Será que se trata de um favor pagar o que devem? E nessa situação toda o jornalista vira o que? Mulher de malandro? Que exemplo estamos dando ao cidadão, quando não somos homens (no sentido de honra) nem mesmo para cobrar o que nos pertence por direito? Que moral teremos para fazer uma reportagem sobre descumprimento de leis trabalhistas? Que moral teremos para encarar o cidadão que é vítima de patrões medievais? Essa gente troglodita que ainda acha que imprensa é para divulgar fotos de amigos e perseguir inimigos?

Como já disse em outro artigo aqui, nós jornalistas que temos atitude de bundões estamos perpetuando essa imprensa suja e podre. Uma imprensa que o leitor já não acredita há muito tempo. E, claro, não vende mesmo, justamente porque não há interesse real em que o cidadão leia. O importante é fazer a notícia da polícia para o delegado ler. A notícia da reunião da Câmara tem de agradar aos vereadores. A notícia do encontro médico estará ótima se saírem as fotos dos médicos. A reportagem sobre o evento esportivo ficará perfeita se saírem frases como "coroada de êxito" e "de alto nível técnico", mesmo que o público nem tenha ido ao local, mesmo que o campo de futebol não tenha sequer grama, e ainda que dois jogadores tenham entrado sem chuteiras.

Para que o cidadão quer saber de notícias, não é mesmo? Pouco importa. O que vale é o "H" para os nossos amigos. De que importa que o cidadão tenha direito de ouvir os dois lados de uma questão? A verdade é a dos caras que eu apóio. É assim que "profissionais" sem ética pensam. Estão inteiramente enganados. Sabem disso. Mas como não têm compromisso com jornalismo de verdade, dormem tranqüilamente em suas camas confortáveis, enquanto seus funcionários-vassalos devem ao comércio, se alimentam mal, fazem ligações do trabalho com o telefone pessoal, e ainda temem perder o emprego! E além disso, defendem o mesmo grupo político do patrão, não importa qual seja! Fazem o papel de cabo eleitoral, sem remuneração. Onde está a honra de um profissional desses? Bundões-vassalos-mulheres-de-malandro! É o que é um jornalista que age assim. É o que é um jornalista que não sabe dizer não ao que fere seus princípios; ao que fere a ética profissional. Triste ter que se vender, e a preço de banana de fim de feira.

Pense bem! Quantas vezes você já foi "entrevistado" para um emprego e um patrãozinho, um chefinho, uma psicologazinha de agência de emprego te cobriu de perguntas imbecis? E você o que fez? É preciso reagir! O momento de uma entrevista de emprego não é e nem pode ser unilateral. A empresa quer saber quem está prestes a contratar, mas o profissional que faz seu serviço corretamente e com qualidade tem o dever de saber em que tipo de empresa está prestes a trabalhar. Uma agência de empregos que procurava um assessor de comunicação para uma entidade de Montes claros me dispensou de cara quando me perguntou se eu sabia dirigir carros. Eu disse não. E nada mais importou: nem 14 anos de jornalismo em televisão, nem 7 anos de rádio, meus conhecimentos de marketing, assessoria, nem cursos especializados, nem conhecimento de inglês - que também foi exigido. Ou seja, a psicóloga procura para a tal entidade um motorista que, por acaso, faça assessoria. Achei graça, e naquele dia percebi que a crise na formação profissional não se restringe apenas à área de comunicação. Quando precisar de uma psicóloga, antes de marcar a consulta, vou perguntar se ela sabe dirigir.

Mas voltando ao nosso assunto, não prego aqui uma greve dos empregados na imprensa. Ainda acho que algumas dessas empresas trabalham sem qualquer tipo de planejamento estratégico, em gerência de recursos humanos ou sequer direcionamento no mercado. Portanto, têm sim salvação. O mercado para a imprensa local está todo aberto. O leitor nessa terra de Darcy Ribeiro é um alvo ainda virgem e ignorado. Não se faz jornal para o cidadão em Montes Claros, e cidadão é o que não falta! Esses "órgãos de imprensa" precisam abrir os olhos. Grandes empresas não anunciam onde a marca delas possa ser confundida com uma linha editorial altamente tendenciosa e com trabalhos de profissionais semi-analfabetos!

É preciso respeitar não apenas o leitor, mas tambem o anunciante!
Mas tudo isso começa dentro da empresa de comunicação. Quem respeita seu funcionário,não apenas como ser humano, mas como profissional, tem mais condições de cobrar qualidade e isenção e, conseqüentemente, resultados.

Eu não vou parar de insistir e repetir. A maioria dos órgãos de comunicação está sim errada, equivocada e até mesmo com intenções outras que passam longe do jornalismo. Mas só haverá mudança se nós jornalistas mudarmos também. Jornalista que não lê, não escreve. Se não lê, não tem consciência verdadeiramente política. Se não se informa, não tem como sequer argumentar numa discussão com os senhores patrões. Se não se informa, não pode informar. Se não sabe informar também não tem como batalhar respeito profissional e melhores salários.

Se você escreve bem. Se você tem bagagem cultural para fazer associações de informações e produzir sempre um bom material jornalístico. Se você é um profissional verdadeiramente ético. Valorize-se. Não continue entregando de graça a única coisa que temos paraa vender, que é o nosso trabalho.

domingo, dezembro 28, 2008

Feliz PENSAMENTO NOVO!

- "Vai, vai aprontando, viu? Quando seu pai chegar vou contar tudo. Se bobear, já ligo pra ele agora mesmo pra ele ficar sabendo o que está acontecendo aqui em casa."
Esse texto você já conhece bem, não é? Faz parte da rotina de quase todos os lares no mundo inteiro. Geralmente é dito pela mãe, empregada doméstica ou por um dos irmãos.

Quem não tem como controlar uma situação ou sequer explicar qualquer acontecimento, inventa logo uma forma de poder. Cada casa tem seu bicho-papão.
Com as religiões a coisa funciona assim também. Imagina o homo sapiens sapiens tentando sobreviver a um mundo selvagem, descobrindo a linguagem e ainda tendo que explicar fenômenos naturais como trovões, relâmpagos, enchentes, morte, doenças, etc?
Sem ciência, ou seja, sem conhecimento, o jeito foi inventar. Não dava para pesquisar. Então, os fenômenos vindos do céu viraram ainda reflexos do temperamento de coisas que moravam lá. Bichos, deuses, demônios. E tudo isso variando de cultura para cultura.

O incrível é que, hoje, mesmo depois de tantos e tantos séculos de avanço da ciência, até mesmo psicólogos tropeçam na tradição do mais fácil e recorrem ao bicho-papão para evitar que seus filhos entrem em quartos escuros! E é assim que acontece com a religião. Só que, nessa área, a situação sempre foi mais delicada.

Imaginem se após uma grande destruição mundial restem poucas famílias e apenas um exemplar do livro “O Senhor dos Anéis”? Os séculos virão e vão acabar construindo templos para glorificar o ingênuo Frodo, seu heróico amigo Sam, e o demônio será Sauron. Pobres personagens de um bom livro de ficção. E é o que a bíblia. Um livro de fábulas até hoje jamais comprovadas. Rico em mensagens de humanidade, dominação e barbáries – foi escrito por povos que hoje podemos chamar elegantemente como analfabetos funcionais.

O pai que só chega no final do dia é Jesus, um cara literalmente pego pra Cristo. Ao mesmo tempo em que essas lendas ajudam a botar regras de controle social, também serviu de manual de dominação religiosa e política. Até mesmo a Igreja reconhece: não há nenhuma prova da existência de Jesus. De qualquer tipo de divindade, pior ainda.

Já repararam como tudo é contestável, menos a existência de deuses, santos, e... Bom, por que os elfos não podem existir? O ser humano natural, ou seja, aquele que consegue formar opinião própria, e tenta ao máximo ter o pensamento livre é que é obrigado a provar a inexistência de algo que está num livro. Então, tá bom: eu invento meu saci pererê, crio altares para ele em cada esquina, junto meus tostões e meus seguidores e pronto: você é que tem que provar que meu saci não existe?

Precisamos abandonar a preguiça e pensar de verdade. Há outras idéias além dos livros santos de cada religião. Por que temos que acreditar que a bíblia é a resposta para tudo, sendo que não há nada real ali? Um livro cujo conteúdo foi mexido e remexido de acordo com o gosto e as intenções de reis e manda-chuvas religiosos. Se o rei não gostava da idéia de reencarnação como escravo, mandava tirar tudo sobre a volta dos mortos à vida.

Não podemos mais usar esse método mesozóico para educar nossos filhos, nem como baliza para nossas vidas. É tempo de acordar e sair da sala de cinema. A trilogia acabou. Peter Jackson já rodou outros filmes depois da série dos malditos anéis. Então, chega. Vamos ver outros filmes. Vamos usar argumentos reais para que nossos filhos, amigos e a sociedade em geral faça o bem, faça o que é certo.

Eu não quero aqui pregar o abandono radical desses cultos e todas as suas variantes. A transformação deve ser natural, aos poucos. Ainda tem gente que se assusta quando está ao lado de um ateu, ou quando descobre que muitos famosos são ateus. O natural é ser natural. As crenças são impostas pela cultura de cada povo. Apesar de todas as guerras e mortes que as religiões provocaram e ainda provocam, não precisamos destruir a riqueza cultural que elas esculpiram em milhares de anos de parafinas derretidas. A fé, como neurolingüística, é algo bom. Pena que tem sido uma energia desperdiçada em algo inexistente.

O que o ser humano mal informado não suporta é entender que ele é um ser vivo como outro qualquer, sujeito a ser pisoteado como formiga, a sofrer doenças, a ser atingido por um raio, a cair do telhado, e a ser vítimas de nossas próprias armadilhas. Então, compreende-se assim o apego ilógico a uma suposta lógica na equação vida-e-morte. Não podemos simplesmente morrer e pronto. Formigas podem, nós não!

É preciso perceber que não adianta rezar porque criancinhas serão tragadas pelas enchentes; ônibus cairão em pontes (inclusive os que levam romeiros a Aparecida do Norte ou que foram a um retiro espiritual evangélico); políticos corruptos serão eleitos; doenças continuarão matando... Nada muda se você reza. Nada muda se você não reza. Mas se o motorista respeita a sinalização; se o paciente segue à risca as ordens médicas; se o eleitor vota no candidato honesto; isso, sim, MUDA TUDO!

Mas a gente ignora que só quando percebemos que - sim! – não somos nada melhores nem piores que formigas, é que passamos a dar real valor à busca por explicações reais. Essa é a nossa grande jornada, e a ciência, ao contrário do que muitos pensam, é a nossa mágica. É a nossa arma mais poderosa para ir avançando em direção ao que se possa chamar de VERDADE, passando o bastão de geração em geração. Essa é a coisa mais linda e admirável da raça humana. Essa é a nossa grandeza. Nossa tarefa crucial! E quanto mais perdermos tempo nos contentando em parar de pensar, em parar de estimular nossos neurônios, em usar a fé para explicar tudo, estaremos nos afastando dessa nobre missão. E as formigas estarão bem à frente. Elas não vão se destruir porque não têm templos nem deuses. Estão ocupadas em sobreviver. Nós nos destruiremos, e elas estarão aí, cumprindo sua missão. Sem fé, elas já nascem sabendo o que deve ser feito. E fazem!

E nós? O que temos feito?

Pense nisso, agora e sempre, se afaste de pessoas que vivem dizendo que sexo, religião e futebol não se discute. A cada discussão de real conteúdo, estamos enviando a nossos companheiros mais próximos e aos nossos descendentes as informações que servirão de base para a continuidade do pensamento humano. Não faça com que eles tenham de começar de novo, como muitos de nós, do início dos tempos do homo sapiens sapiens.

Comece uma nova vida agora. Comece a pensar!
Só assim seu ano será diferente.
Feliz pensamento novo!